Francini e Sidnei anunciaram em sites internacionais a locação da própria casa em Itaquera para a Copa do Mundo
Daia Oliver/R7Lucro fácil e rápido. Esse era o objetivo de alguns moradores de Itaquera, bairro na periferia de São Paulo, que colocaram seus imóveis para locação durante a Copa do Mundo. O sonho, no entanto, virou ilusão. Levantamento feito pelo R7 em cinco imobiliárias da região mostrou que esses imóveis “encalharam”: nenhum turista está disposto a abrir tanto a carteira só para acordar perto do Itaquerão, palco de abertura do Mundial.
O que acontece na região é a famosa tentativa do “se colar, colou”. A moradora de Itaquera Francini Rusig é categórica na estratégia.
— Meu intuito na verdade não é locar, é lucrar. Se eu tiver uma oferta, está legal, estou saindo.
Ela ofertou, para o período da Copa, a casa de três quartos com seis banheiros que mora com o marido, Sidnei Machado. Para tanto, usaram sites internacionais de locação para divulgar a oferta: R$ 2.900 por dia, o equivalente a US$ 1.200. Para os 31 dias do mundial — 12 de junho a 13 de julho — a locação chega a R$ 89.900. Conheça a residência.
O valor supera a diária de US$ 319 cobrado pelo hotel de luxo Hilton São Paulo Morumbi e de vários outros hoteis e resorts de luxo pelo País.
Francini explica que evitou os sites brasileiros por questão de exposição. O casal disponibiliza também traslado “em carro particular” de ida e volta entre casa/estádio e casa/aeroporto.
Os dois chegaram a esse preço baseado no que outros moradores da região estavam pedindo, como explica Machado.
— A gente viu o diferencial que a nossa casa oferecia. O conforto, as torneiras com água aquecida, hidromassagem, lareira.
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Porém nem toda essa mordomia parece ter atraído os gringos. O anúncio já está há quase um mês nos sites, mas, até agora, ninguém mostrou interesse.
Ricardo chegou a ter mais de 20 imóveis disponíveis para locação em sua empresa
Daia Oliver/R7Encalhados
Segundo as imobiliárias, essa situação se repete pelo bairro. O proprietário da Fácil Imóveis, Ricardo Bernal, afirma que mais de 20 pessoas procuraram o escritório nos últimos 12 meses querendo colocar os seus imóveis para locação durante o Mundial.
— Alguns eu até recusei porque estava uma coisa absurda. Teve cliente que deu até um pouco de discussão porque ele chegou aqui e queria colocar uma casa de R$ 100 mil (valor do aluguel para uma residência de três dormitórios na Cohab 2 — conjunto habitacional em Itaquera) para alugar para a Copa. E falou assim: o que é R$ 100 mil para um americano?
De acordo com Bernal, a média cobrada pelos moradores de Itaquera para locação durante a Copa é de R$ 50 mil. Essa ganância, no entanto, não deu resultados.
— Não tive uma ligação, uma pessoa interessada e também não conheço ninguém que falou assim: eu aluguei.
O corretor da Crescer Imobiliária, Fábio Miranda, também afirma que chegou a oferecer três apartamentos e duas casas para o Mundial, mas sem retorno.
— Uma ilusão do pessoal. Teve esse estádio de Itaquera que eles acharam que era uma boa. Você alugaria um apartamento por R$ 30 mil? Por esse valor, ele [turista] fica no hotel e vai para onde quiser.
A tentativa de “superfaturamento” na locação dos imóveis para a Copa também foram relatadas pelas imobiliárias Nova Aliança Imobiliária, Yamakawa Imóveis e Ponto Certo Imóveis. A menos de uma semana do Mundial, a reportagem apurou que nenhuma das empresas fechou o negócio.
Dinheiro que vira sonho
Francini Rusig diz que até tem consciência do preço fora da realidade, mas mesmo assim decidiu pela estratégia do “tiro no escuro”. Ela defende o seu preço.
— A gente pensou em pegar um turista europeu por conta da cotação do euro, não um americano, porque no euro sai muito mais barato toda uma locação. Se você for dividir ainda para dez pessoas [capacidade de acomodação da casa], o cara vai investir muito baixo. Foi essa a estimativa que a gente fez.
Atualmente, 1 euro vale R$ 3,06. Por dia, o europeu gastaria cerca de 950 euros na casa, equivalente a R$ 2.900. Se for um grupo de dez amigos, cada um pagaria 95 euros a diária.
A costureira Djanira Maloni foi outra moradora do bairro a ofertar a própria casa. E ela cobra justamente a quantia necessária para reformar a residência e ajudar os filhos: R$ 52 mil.
Costureira Djanira cobra R$ 52 mil para a locação durante um mês
Daia Oliver/R7— Se der certo, eu quero R$ 52 mil [para o mês] antes de eles entrarem.
Djanira procurou uma imobiliária para fazer a oferta. Desse montante, ela conta que cerca de R$ 15 mil ficariam com a empresa. Encontrando interessado, ela se muda com dois cachorros, uma gata e ainda um louro para a casa de um dos filhos.
O imóvel tem uma sala e uma cozinha que ocupam o mesmo vão, dois dormitórios e uma pequena área livre com churrasqueira. O local é simples, sem a mordomia de um hotel. A residência fica na localidade de Planalto Vila Brasil, a cerca de 10 minutos de carro do estádio.
O anúncio já foi feito há duas semanas, mas, até o momento, nenhuma oferta. Mesmo assim, Djanira nem pensa em baixar o preço.
— Se não locar, vou ficar tranquila.
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