Representante americano diz que métodos se repetem em países
ReutersA integração entre países é um dos melhores caminhos para o combate aos crimes cibernéticos, conforme afirmou Robert Holman, representante do departamento de segurança do serviço secreto norte-americano, em palestra durante o Seminário de Combate Preventivo e Repressivo aos Crimes Cibernéticos, na sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), na última quarta-feira (21). A principal atribuição de Holman é atuar junto aos países para ajudar a proteger os líderes americanos (e os que visitam o país) e também o sistema financeiro dos Estados Unidos.
— O sistema financeiro dos Estados Unidos não é fechado, o dinheiro pode ser trocado no mundo, está interligado, estamos aqui para fazer em parte esse intercâmbio e compartilhar o que estamos aprendendo sobre os golpes que estão acontecendo nos Estados Unidos, os métodos que os criminosos estão utilizando. O que funciona em um país eles usam em outros.
Neste momento, apesar de as legislações dos países, inclusive do ponto de vista penal, serem diferentes, somente com a união de esforços os grupos de criminosos que disseminam os chamados malwares (softwares nocivos) como o ransomware (vírus que bloqueia acesso a sistemas) serão superados.
O perigo da situação é que muitos vírus já estão ao alcance de leigos, oferecidos em kits virtuais para acesso a diversos sistemas, com o objetivo de “decriptar” equipamentos criptografados (decifrados com acessos exclusivos). Holman deixou claro que a intenção dos norte-americanos é a de se aproximar cada vez mais de países como o Brasil para trabalhar em sintonia contra essa disseminação.
— Podemos compartilhar e trabalhar com ministérios, como o da Justiça, a Polícia Federal, o Ministério Público, os bancos. Temos forças-tarefas nos Estados Unidos, os setores de negócios e industrial estão integrados à polícia para que, enquanto coisas estão acontecendo, possamos trabalhar contra elas no exato momento. Esperamos poder ajudar o Brasil.
O fato de os Estados Unidos serem o país que mais recebe este tipo de ataque, chegando a 81% das invasões cibernéticas no mundo, segundo estudo feito em 2015 pela empresa americana de tecnologia Akamai Technologies, também deu à nação uma experiência em lidar com a situação. Experiência nem sempre bem-sucedida, já que em algumas situações a segurança cibernética do país foi violada por hackers e por vírus invasores.
O exemplo mais recente, e um dos mais impactantes em todos os tempos, ocorreu em maio último quando o ransomware chamado WannaCry causou alarde ao invadir, em cerca de 24 horas, perto de 300 mil computadores em 150 países. Empresas de grande porte, hospitais e governos, entre outros, tiveram seus sistemas “sequestrados”, com pedidos de resgate em bitcoins (uma moeda virtual baseada em cotações em relação às moedas locais). Hoje, um bitcoin está em cerca de R$ 10 mil.
A situação teria se originado na empresa americana Microsoft. A corporação, no entanto, já teria resolvido a falha em março, quando criou bloqueios contra o malware. Mas, pela falta de atualização dos sistemas dos usuários, a vulnerabilidade não foi resolvida e o vírus teve efeito inicial.
Prejuízo dos bancos
Sobre esta questão, a advogada sênior da Diretoria Jurídica da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Florence Terada, destaca a importância de certos cuidados que, surpreendentemente, grandes corporações não tiveram neste episódio de maio último.
— Com relação ao ransomware, podemos falar em medidas simples para o usuário, como simplesmente manter a atualização do seu sistema operacional. Outra forma efetiva é manter antivírus, antiransomware, e realizar back-ups constantemente, separados, em HD externo, em um dispositivo que não tenha vinculação direta e permanente com um computador, um tablet, um smartphone.
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Também os cidadãos estão vulneráveis a esses ataques, que podem ocorrer em aparelhos como smartphones. Florence afirma que, em casos de clientes de bancos que tenham prejuízos financeiros com invasões, os bancos são obrigados, por lei, a fazerem o ressarcimento. E isso tem se tornado uma preocupação para o setor bancário que, segundo ela, no Brasil, investe por volta de R$ 20 bilhões anuais na segurança eletrônica.
— Não existem sistemas perfeitos, o que tentamos fazer no setor bancário, por ser responsável por um dos maiores bens da sociedade, que são as finanças pessoais e corporativas, é mitigar esses incidentes. Trata-se de um prejuízo que chega à casa dos bilhões por ano.