Estudante denunciou no Facebook omissão de policiais na Lapa
Reprodução/Arquivo PessoalCelular de estudante foi destruído por suspeito na Lapa; grupo denuncia omissão de policiais ante a violência no centro do Rio
Divulgação / Maria BubnaUm caso de agressão e omissão da polícia na Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro, causou indignação nas redes sociais. O relato teve mais de 11.200 compartilhamentos no Facebook. A estudante de direito da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Maria Clara Bubna denunciou omissão de socorro de policiais militares e civis após um frequentador da Lapa assediar e agredir a amiga dela em 14 de fevereiro.
No desabafo, Maria Clara, acompanhada de mais quatro amigos, estava em um bar na rua Mem de Sá, quando um homem passou a mão no corpo da vítima, puxando-a e dizendo: "Você é linda, vem aqui". Maria Clara procurou uma viatura do programa Lapa Presente, que atua no bairro para coibir violência e tráfico de drogas, e pediu ajuda a um policial militar. O PM foi ao local do crime, mas, segundo ela, nada fez para conter o suspeito.
"O policial correu até o bar. Porém, chegando lá, ele mudou de postura. Agiu com indiferença, enquanto o homem me ameaçava dizendo coisas como: 'Você se meteu com a pessoa errada, eu sou da região, nunca mais você pisa aqui'. Mesmo ouvindo isso, os policiais (sim, eles foram surgindo) ignoraram e não fizeram a menor questão de afastar o assediador. Enquanto isso, os amigos do homem berravam ofensas extremamente discriminatórias que não acho válido reproduzir.", disse Maria Clara.
Agressão e omissão
Uma jovem que acompanhava Maria Clara tentou gravar com seu celular a confusão, mas foi agredida com socos e teve o aparelho destruído pelo agressor. Cerca de dez policiais acompanhavam a confusão. Neste momento, a estudante de direito deu voz de prisão ao homem e pediu para os agentes levarem o suspeito para a Delegacia da Lapa (5ª DP), mas os PMs se recusaram.
"Os policiais deixaram o homem ir embora. Os policiais recolheram nossas identidades, os policiais quase nos atropelaram com o furgão do Lapa Presente. Um major tentou dar voz de prisão em uma das meninas que bradava por ajuda, mas desistiu da ideia quando lembrei que ele podia tomar voz de prisão por abuso de autoridade. Os policiais foram embora."
Acompanhado de testemunhas, o grupo ainda teve mais dor de cabeça ao tentar registrar o caso na Delegacia da Mulher, localizada na praça Tiradentes. Ao R7, Maria Clara disse que o grupo foi maltratado por inspetores dessa unidade da Polícia CIvil e que, em nenhum momento, contou com a presença de uma agente mulher. Segundo a estudante, eles não puderam fazer exame de corpo de delito e o registro de ocorrência continua erros, incluindo o nome errado das jovens.
— Não fizemos o exame, pois o inspetor alegou que, por minha amiga não ter marcas, não seria possível. Aliás, enquanto minha amiga que foi agredida narrava o ocorrido, um dos inspetores falou: 'Você tá agressiva demais pro meu gosto, abaixa teu tom de voz'.
Após duas horas de espera, o grupo conseguiu realizar o registro. Revoltados, os estudantes querem entrar com uma ação contra o Estado e levar a denúncia ao Ministério Público, pois, segundo Maria, houve omissão de socorro e abuso de autoridade. Até a publicação desta reportagem, o suspeito não havia sido localizado.
Polícia investiga denúncia
Procurada pelo R7, a Polícia Civil informou que a diretora da DPAM (Divisão de Polícia de Atendimento à Mulher), delegada Márcia Noeli, instaurou sindicância administrativa para apurar a conduta dos inspetores. Segundo a polícia, a delegada titular da DEAM (centro), Célia Silva Rosa, está à disposição da vítima para atendê-la pessoalmente na unidade.
A Polícia Civil também disse que as investigações estão em andamento e que os policiais militares estão sendo chamados para depor. Imagens de câmeras de segurança foram solicitadas e agentes realizam diligências em busca de testemunhas que ajudem a identificar os envolvidos.
Em nota, a Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro informaram que a coordenação do programa Lapa Presente é da responsabilidade do major Rodrigo Cerezer. O R7 tentou entrar em contato com o major sobre o caso, mas ele não foi localizado.
Maria Clara, que espera que sua denúncia não seja em vão, defende que o Estado não negligencie e trate com respeito as vítimas da violência contra mulher.
— Toda e qualquer vítima de violência deveria ter visibilidade, apoio e respeito, mas não é o que ocorre na maioria das vezes. Nosso caso não é isolado. O Estado boicota as próprias leis e silencia as vítimas. Não é à toa que vivemos uma barbárie completa, onde o Estado é o maior criminoso.
Nayana Alcântara, do R7 Rio