Paulo com certificado de alta
Arquivo pessoalEm menos de uma semana, o encarregado de finanças Paulo Matias, de 50 anos, passou de um estado febril, que atribuiu ao medo de ser contaminado pelo novo coronavírus, para a internação em estado grave em um hospital para se tratar da covid-19. Mesmo sendo do grupo de risco por ter hipertensão, melhorou no hospital e voltou para casa, onde agora segue o tratamento.
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Segundo Paulo, que é morador de Itapevi, na Grande São Paulo, além dos impactos no corpo causados pela doença, o psicológico fica muito abalado pelos pensamentos do que poderia ter acontecido caso ele tivesse agido de forma diferente.
“Passa um monte de coisas na minha cabeça, no que poderia ter acontecido se eu não tivesse procurado o médico assim que comecei a sentir febre, e se eu tivesse me negado ir ao pronto-socorro, tudo isto poderia ter sido um obstáculo maior para a minha recuperação. Mas o medo de morrer me fez ficar vivo”, conta.
O drama de Paulo começou em 9 de maio, na véspera do Dia das Mães. “Comecei a perceber que eu estava meio febril, me sentia estranho, mas acreditei que fosse psicológico, por medo”, diz. No domingo, a febre ficou forte e o corpo começou a doer. Junto, chegou o medo.
Até o início do estado febril, Paulo estava trabalhando em home office, mas teria que ir até a empresa na segunda-feira (11) para resolver algumas questões presenciais. Já tinha ajustado com um amigo como faria para seguir as medidas de proteção recomendadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde), mas o final de semana cancelou todos os planos.
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Na segunda-feira, a febre havia piorado e Paulo fez o primeiro contato com médico, via videochamada. Recebeu orientação para tomar um antibiótico. Ele seguiu a recomendação, mas na quarta-feira a febre continuava e começavam os primeiros sinais de falta de ar.
Paulo fez outra chamada de vídeo com o médico, que receitou, além do antibiótico, um anti-inflamatório. “Mas nada de passar a febre, muito pelo contrário, os sintomas persistiam, e a febre aumentava”, lembra. Na sexta-feira (15), fez a última chamada em vídeo com o médico, e recebeu a orientação para procurar um pronto-socorro.
No PS, fez o raio-x dos pulmões e constataram que estavam bem comprometidos. Seria necessária internação imediata. “Me colocaram o cateter com oxigênio e pediram a minha remoção para o hospital”.
Neste momento, quando soube que ficaria internado, Paulo começou a temer o que poderia acontecer. “O medo me estrangulava, medo de não voltar mais para casa, de ser entubado, de não conseguir lutar e morrer” lembra.
Na ambulância, enquanto era transferido do PS em Barueri para o Hospital Intermédica ABC, em São Bernardo do Campo, Paulo ouviu mensagens de conforto da equipe médica. Os efeitos dessas falas seguem firmes como um passo do tratamento, sobretudo psicológico, dele.
“Quando perguntei o que fazer com o medo, o médico respondeu: 'Engane o medo, faça de conta que você é corajoso, não deixe ele perceber que você está com medo. Olha, você está respirando, continue. Se tudo vai ficar bem eu não sei, depende da situação e da circunstância de cada um, mas eu sei que a gente não precisa desistir, e isso já é o começo'”, lembra Paulo.
No dia 17 de maio, pela primeira vez um mais de uma semana, Paulo começou a sentir melhoras. A febre havia passado e as dores pelo corpo amenizaram. Seguindo as recomendações da OMS, ele seguia em isolamento no hospital, recebendo oxigênio no cateter e medicação. No mesmo dia, houve a diminuição de oxigênio e a reação foi boa. Dois dias depois, recebeu alta.
Mesmo longe do hospital, e com certificado escrito que venceu a covid-19, a luta segue. Até o próximo dia 2 de junho, Paulo deve seguir a recuperação em casa. Em total isolamento, prestando atenção em sua progressão e continuando o tratamento. Paulo considera o momento difícil, mas o pior já passou. Agora falta pouco. Mesmo no caminho final para vencer o novo coronavírus, diz que só vai poder dizer que está completamente curado "quando puder abraçar a minha esposa e os meus filhos”.