A investigação foi iniciada em setembro. As prisões começaram em novembro, com dois supostos cabeças da quadrilha. Um era o Carlos Eduardo Rocha Freire Barbosa, com perfil de classe média e conhecido como Cadu Playboy, de Cabo Frio. Outro era o chefe do comércio de drogas na favela da Mangueira, no Rio, João Paulo Firmiano Mendes da Silva, o Russão. Barbosa comprava cocaína e armas de Silva para expandir seus domínios na Região dos Lagos, acusam policiais federais e procuradores.
"Cadu queria ser o dono da região até 2016, ano das Olimpíadas, quando a movimentação de turistas será grande. Como vem da classe média e tem certa cultura, tem ascendência sobre os outros bandidos", afirmou o delegado federal Fábio Andrade, da área de repressão a crimes contra o patrimônio. "Os números da quadrilha nos surpreenderam, são alarmantes para a região".
De novembro para cá, outros 19 presos suspeitos foram presos, onze no dia de hoje (até as 16 horas ainda restavam cinco mandados de prisão preventiva a cumprir). Entre os detidos, está o pai de Cadu, Francisco Eduardo Freire Barbosa, secretário de Turismo de Arraial do Cabo. Ele foi encontrado em Cabo Frio, município vizinho, numa casa de alto padrão em que havia R$ 31 mil, além de R$ 15 mil num automóvel, nos dois casos em dinheiro.
Cadu usava mais seis parentes para lavar o dinheiro do tráfico, segundo os investigadores. Tinha dez imóveis, 14 terrenos, 16 veículos, uma escuna e um jet ski nos nomes desses laranjas. Outro crime atribuído ao grupo é de ordem eleitoral: o traficante, segundo as investigações, arregimentou moradores de Cabo Frio e de São Pedro da Aldeia para votar em candidatos a deputado estadual e federal de sua escolha (eles não se elegeram). Cadu planejava lançar candidatos ligados ao seu grupo para a Câmara de Vereadores de Cabo Frio em 2016.
A PF e o MP acreditam ter desarticulado toda a estrutura da quadrilha, dos fornecedores de cápsulas que servem de embalagem à cocaína aos laranjas. Desde novembro, foram apreendidos com a suposta quadrilha mais de R$ 800 mil em espécie, 18 pistolas, três fuzis, mais de 3.400 munições e duas granadas. "O movimento das UPPs fez com que as drogas e armas fossem para o interior, não só para a Região dos Lagos, mas também para o Norte Fluminense", disse o promotor Marcelo Maurício Arsênio, do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado do MP. "Cadu é ganancioso e oferecia refúgio a eles". A operação ganhou o nome de "Dominação" por causa das ambições do traficante.
A Região dos Lagos tem sete municípios e é muito procurada por veranistas, do Rio e de fora, por suas praias.