Sucesso nos anos 1950 e 1960, drive-in virou alternativa diante de pandemia
Wadson Henrique/DivulgaçãoDepois do sucesso e do boom das lives, um novo formato de eventos ganhou o mercado e também o público. Sucesso nos anos 1950 e 1960, o drive-in voltou à tona e virou alternativa de entretenimento e de receita para os artistas diante da pandemia de covid-19.
Além do tradicional cinema drive-in, stand up e shows (de nomes como Léo Chaves, Jota Quest, Luísa Sonza) fazem parte da programação de eventos. Em São Paulo, o Memorial da América Latina, o Allianz Parque, o Tom Brasil são alguns dos locais que trocaram as cadeiras e aplausos da plateia pelos carros e buzinaços.
Arthur Igreja, especialista em inovação e tendências, avalia o retorno e popularização do drive-in em pleno século 21. "Definitivamente, não é uma novidade, mas é interessante ver esse resgate. No Brasil e nos EUA, já existiam pouquíssimos cinemas drive-in e, agora, muita gente se lembrou do modelo, que é viável em um momento de distanciamento e restrição. Está diretamente ligado ao momento que estamos vivendo."
Tereza Santos, diretora de Serviços da Sympla, plataforma responsável pela venda de ingressos de grande parte das exibições, afirma que o formato marca a recomeço dos eventos presenciais.
"É o primeiro passo para uma retomada e para uma volta segura. Nós, como Sympla e mercado, prezamos, antes de qualquer coisa, pela segurança e o drive-in possibilitou isso. É um formato de evento presencial que possibilita o atendimento aos protocolos de saúde, mantém a saúde da plateia e do público, trazendo uma opção de entretenimento para aqueles que ainda buscam essa mobilidade em tempos que requerem distanciamento social", declara.
Allianz Parque, em SP, é um dos locais que tem feito 'eventos de estacionamento'
Lucas Ramos/AgNewsEm pouco tempo, o drive-in ganhou força e, segundo Tereza, a repercussão tem sido muito positiva. Apesar de não revelar números de vendas, ela afirma que a maioria dos eventos atingiu capacidade máxima.
"Temos percebido uma aceitação muito boa do público pelos resultados de bilheteria. Tanto que a maior parte das apresentações está com ingressos esgotados. Devido a alta procura, os eventos drive-in começam a dar sinais de uma extensão, de que serão prorrogados", especula.
Para Arthur, o sucesso do formato pode ser justificado pela oportunidade de vivenciar uma experiência nova e única. "Assistir a um show dentro do carro, óbvio que não é o melhor dos mundos, mas é a melhor forma de interação no momento. A pessoa tem como sair de casa, se arrumar, se distrair. É uma experiência. Acho que a procura se dá pelo imediatismo, por poder participar de um negócio diferente e pela criação de memória, para você poder falar: 'Eu estava lá, em um momento de pandemia'."
Tereza reforça a curiosidade do público e a possibilidade de diversão para todos os gostos.
"As pessoas estão curiosas para curtir e conhecer um evento desse tipo. O drive-in já é uma nova opção de diversão e não só para os mais nostálgicos, que viveram as décadas de 50 e 60, mas para quem está em busca de entretenimento com segurança", garante. "Tem opção para todos os gostos e para a família. O formato também possibilita essa diversidade de conteúdo, o resultado das bilheterias está muito atrelado a isso", completa.
Artistas avaliam experiência de cantar para 'mar de carros'
Vitão e Luísa Sonza no Allianz Parque no início deste mês
Reprodução/InstagramLuísa Sonza e Vitão, que fizeram parceria no single Flores, são alguns nomes que apostam no estilo drive-in. Prova disso é a apresentação que realizaram juntos no Allianz Parque, em São Paulo, no começo do mês. Ambos acham que a experiência valeu a pena e serviu para suprir a saudade de se apresentar.
"Foi uma grande novidade e uma experiência única poder participar do show em formato drive-in, que contou com todas as normas e cuidados de higiene necessários para o momento em que estamos vivendo. Muito lindo poder matar um pouco da saudade dos palcos e sentir, mesmo que de longe, a energia dos meus fãs que sempre me apoiam", conta Luísa.
Vitão, que dá início a própria turnê drive-in neste sábado (18), diz que estranhou entrar no palco e se "apresentar para carros".
"Com certeza, tem um estranhamento inicial por não serem pessoas e a plateia cantando junto faz muita diferença. No drive-in, não tem isso. Mas, o fato de voltar para o palco e cantar, independente de serem pessoas ou carros, é o que mais pesa e o que acaba sendo mais especial."
Turma do Pagode no Allianz Parque para show drive-in
Divulgação/Wadson HenriqueO Turma do Pagode também entrou para o time dos que apostaram na nova forma de performance. Eles tocaram no Allianz Parque, em São Paulo, no dia 3 de julho. Thiagão, percussonista do grupo, descreve a experiência como "sendo mágica".
"Foi excepcional, incrível, excelente. A sensação foi indescrítivel por vários motivos. Nós já tínhamos feito o drive-in em Piracicaba (interior de SP), então, já tínhamos experimentado esse lance de as pessoas estarem no carro e, nós, no palco. Às vezes, você não consegue ver todas as pessoas, mas consegue sentir a vibração da galera. E esse é o grande segredo. Não foi diferente no Allianz. Foi mágico", relembra.
Thiagão reforça a emoção foi ainda maior pelo fato de o show ter sido em um local onde já cantaram importantes nomes da música.
"Trata-se de uma arena, uma das melhores que temos. Já passaram grandes artistas por lá, mas do pagode mesmo não tinha passado muitos. Somos um dos poucos que lá passaram e isso é um grande um orgulho pra gente", comemora.
O músico ainda cita as diversas reações que conseguiu enxergar dos fãs dentro dos automóveis: "Tinha gente que botava a cabeça para fora do carro, ligava o pisca-alerta, vários vídeos das pessoas cantando dentro dos seus carros. Foi sensacional".
Léo Chaves se apresentou em Santa Catarina no formato de show drive-in
Reprodução/InstagramLéo Chaves, que realizou o primeiro show drive-in no Brasil, em Santa Catarina, conta que teve uma boa experiência. Além disso, ele garante que tudo saiu como o esperado.
"Havia uma tensão por ser a primeira live drive-in do Brasil. A gente se assegurou de que tudo pudesse caminhar bem com relação à segurança de todos que ali estavam, inclusive, com a segurança dos profissionais trabalhando. Tudo saiu como o esperado", avalia.
"Para mim, foi muito importante sentir o gosto de subir no palco, de receber aplausos, mesmo que seja em forma de farois e buzinas. Deu para ouvir alguns gritos nos intervalos... Então, isso acalentou os ouvidos de um cantor. Foi incrível estar ali e poder voltar para o palco depois de tanto tempo e diante de tanta tensão. Foi sensacional", completa o cantor.
O sertanejo também comemora a chance de gerar empregos com a popularização do formato: "As pessoas dessa área do show business estavam sem oportunidade de ganhar dinheiro e ali foi, sim, uma oportunidade de gerar dinheiro para todos que trabalham nessa esfera".
Ivo Meirelles tocou na Estaiada Drive-in em São Paulo
Specio Histórias Em Imagens/Murilo NascimentoIvo Meirelles também marca a lista como um dos primeiros nomes a se apresentar no formato de shows dos anos 1950 e 1960, no dia 23 de junho, na Arena Estaiada Drive-in, em São Paulo.
O cantor conta que sentiu uma certa estranheza no começo da apresentação, vista como uma alternativa para os músicos durante a pandemia da covid-19, mas garante que eles "tiraram de letra".
"Essa é a alternativa que nós, artistas e músicos, temos para o momento e é uma maneira de estarmos pertos do carinho do público. Mas nada vai superar os shows com a presença do público. No início, [o show] causou estranheza, mas pra quem já cantou para ninguém, a gente tirou de letra", brinca.
O cantor também entrega que não gosta do termo "novo normal" ao ser questionado se devemos nos acostumar com o estilo de apresentação desenvolvido no isolamento social.
"Esse novo é anormal", destaca. "Espero que, o mais rápido possível, possamos voltar aos dias normais, com público, gritos, aplausos, fotos, autógrafos, abraços", fala antes de contar o desejo que tem para a retomada dos shows com apenas público.
"Vou me sentir mais à vontade que na primeira vez [que fiz show], mas não há nada mais forte que poder olhar nos olhos da platéia... Que Deus nos ajude a voltar com os dias de folia nos palcos", diz.