Rodrigo Rodrigues teve complicações da covid-19
Reprodução/TwitterO apresentador Rodrigo Rodrigues, 45, está em coma induzido após passar por uma cirurgia para diminuição da pressão intracraniana neste domingo (26) devido a uma trombose venosa cerebral. Ele foi diagnosticado com covid-19 há cerca de 15 dias e internado na noite de sábado (25), em um hospital no Rio de Janeiro.
O cirurgião vascular Fábio Haddad, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que trombose venosa é o "desenvolvimento de um coágulo de forma não esperada dentro de uma veia". Os coágulos são a forma sólida do sangue. Eles podem aparecer em qualquer parte do corpo. No caso de Rodrigues, foi no cérebro.
"Durante toda a vida você produz e destrói coágulos de uma forma equilibrada. Mas algum fator pode desequilibrar esse processo. A covid-19 é um desses fatores, que pode desencadear a trombose", detalha Haddad.
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Isso acontece por conta da reação inflamatória desencadeada pelo sistema imunológico para combater a doença causada pelo novo coronavírus. "A liberação de citocinas, substâncias produzidas por células do sistema de defesa do organismo, acaba bloqueando o processo de destruição desses coágulos". completa.
O especialista afirma que quadros de trombose têm sido observados com frequência em pacientes que desenvolvem a forma grave da doença causada pelo novo coronavírus.
De acordo com ele, necrópsias feitas em pacientes demonstram tromboses coronárias (em artérias que fornecem sangue ao coração) e na circulação pulmonar, por exemplo.
"A formação de coágulos está exacerbada [em pacientes graves de covid-19]. Pode ser coágulo arterial ou venoso e, nessa situação, a chance de migrar para o pulmão é maior, caracterizando a embolia pulmonar, que pode piorar o quadro", observa.
Haddad acrescenta que o excesso de coagulação sanguínea pode ser verificado a partir da medição de um marcador chamado D-Dímero, que é fabricado quando esses coágulos são destruídos. Valores até 500 ug/L são normais, mas quando passa 1000 ug/L é preciso ter um cuidado maior, segundo o cirurgião vascular.
"Pacientes que vão a óbito chegam a ter 20 mil de D-Dímero. Aqueles que chegam a 2 mil, 3 mil já merecem mais atenção e para nós [médicos] é uma forma de avaliar e iniciar uma [interveção] terapêutica", afirma.
O médico conta que ele mesmo teve covid-19 e utilizou medicamentos anticoagulantes. "Eu usei o tempo todo. No começo meu D-Dímero estava 507 e foi para mais de 3 mil", lembra.
Ele ressalta que a terapia anticoagulante é uma das possibilidades para pacientes em estado grave por causa da covid-19, mas não está livre de riscos. "Precisa colocar na balança, caso a caso, para ver se vale a pena correr o risco de ter sangramentos", pondera.
Sobre a cirurgia feita por Rodrigues para diminuir a pressão intracraniana, o especialista explica que existem uma série de medidas que podem ser tomadas com esse objetivo.
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"A partir do momento que uma pessoa desenvolve trombose da veia cerebral, acontece um aumento da pressão intracraniana, que pode ser incompatível com a vida porque comprime estruturas cerebrais vitais", descreve.
"Esses procedimentos servem para diminuir a pressão a fim de impedir uma lesão cerebral, mas não retiram o coágulo", acrescenta.