Massacre da última quarta-feira (7) resultou em 12 mortes
Reprodução/Le MondeNesta sexta-feira (9), aconteceu a primeira reunião editorial do jornal Charlie Hebdo após o massacre que resultou em 12 mortes e deixou outros 11 feridos. O encontro foi realizado na redação do jornal francês Libération, que cedeu o espaço para editores e colaboradores discutirem sobre o futuro do Charlie.
A reunião foi acompanhada pela repórter do Libération Isabelle Hanne. Ela relatou as discussões logo após o encontro. Em publicação para outro jornal francês, o Le Monde, uma outra sobrevivente, Zineb El Rhazoui, também deu seu relato sobre o dia a dia na redação do Charlie Hebdo.
Segundo ela, poucas conversas dentro da redação eram sérias. Ela conta que, às vezes, os profissionais diziam uns aos outros que se amavam.
— Para assinar um e-mail de trabalho, ou após o fechamento, acontecia de os colegas dizerem uns para os outros: ‘eu amo vocês’. Não era muito sério, mas verdadeiro. Cruelmente verdadeiro, hoje.
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A primeira reunião da equipe do Charlie Rebdo que sobreviveu após o ataque terrorista durou pouco mais de três horas e além de tratar sobre a próxima edição da publicação, foi necessário falar sobre os mortos, feridos, das homenagens e dos funerais. Segundo relato da repórter do Libération que acompanhou o encontro, mais de 25 pessoas presentes estavam com aparência abatida.
Uma das jornalistas presentes no encontro teria explicado que uma "caixinha espontânea" foi criadas por desconhecidos na internet e já arrecadou 98 mil euros em menos de 24 horas, cerca de 300 mil reais. Os sobreviventes do massacre também estão recebendo uma série de pedidos de assinaturas que aindam não conseguiram processar.
Os advogados do jornal afirmam que dinherio para ajudar na reconstrução do jornal está "chegando de todos os lados". Para Christope Thévenet, parte do apoio vem de veículoso de comunicação.
— Estão chegando doações. Já recebemos 250 mil euros (cerca de 750 mil reais) através da Associação de Imprensa e Plurarismo (...) Vocês no 'Charlie' terão verbas nunca vistas.
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Segundo o relato, devem ir às bancas cerca de 1 milhão de cópias de próxima edição do Charlie Hebdo na próxima quarta-feira (14). A tiragem é 20 vezes a tiragem habitual da publicação.
O relato de Isabelle publicado no Libération também menciona o que os editores e colaboradores do “Charlie Hebdo” pensam em publicar nas edições futuras do periódico. O editor-chefe do periódico, Gérard Biard, afirma que deve ser feito um número normal, “para que os leitores reconheçam o ‘Charlie’”.
— Espero que parem de nos tratar como leigos fundamentalistas, que as pessoas parem de dizer “sim, mas...” à liberdade de expressão.
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Entre os legados que devem persistir na publicação são citados. Richard Malkar, um dos advogados do jornal, cita que eles não vão deixar de criticar as religiões.
Isabelle cita ainda que o “Charlie Hebdo” como “um jornal curioso, sem seções específicas, com espaços atribuídos a determinado autor ou desenhista”. Para a edição que circula na próxima quarta, fica decidido que conteúdos inéditos de parte das vítimas estarão nas págimas impressas.
Segundo a sobrevivente Zineb El Rhazoui, o ‘Charlie’ nunca foi um jornal como os outros, e “fatalmente nunca será”.
— Nossa equipe foi destruída com AK-47s porque ousamos ridicularizar o islamismo. Antes que nossa sala de reuniões, um lugar acostumado com piadas e gargalhadas e paredes cobertas por desenhos, se transformasse em uma piscina de sangue, fomos ameaçados de morte milhares de vezes.
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