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Os alagamentos, comuns durante as chuvas de verão, fazem parte da história de São Paulo. Antes que a cidade tomasse a atual forma, cerca de 300 rios e córregos ficavam à vista na região. Durante o desenvolvimento urbano, prédios e avenidas foram construídos em cima dessas águas. Mas, a cada verão, a existência delas volta a ficar evidente.
Veja nas imagens a seguir como o problema persistiu ao longo do último século.
Reportagem: Fernando Mellis, do R7Montagem/Estadão Conteúdo
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No fim do século 19, um dos mais importantes rios que cruzam a cidade, o Tamanduateí, começou a ter seu curso modificado pelo homem. O leito sinuoso do rio começou a ser transformado em uma linha reta, com concreto nas margens. Até aquela época, as águas chegavam à região onde é hoje a rua 25 de Março
Arquivo/Prefeitura de São Paulo
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A época de cheias do Tamanduateí sempre existiu. Quando São Paulo era habitada pelos índios, era respeitado esse período. Mas com a chegada do "progresso", pensou-se que o leito do rio poderia ser domado e o entorno habitado
Reynaldo Ceppo/Estadão Conteúdo - 28.1.1958
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Essa foto, tirada em 1915, mostra a região da rua 25 de Março, em direção ao bairro da Mooca, inundada. O fenômeno era comum antes e depois da canalização do Tamanduateí
Reprodução/Acervo Fotográfico da Cidade de São Paulo
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Na década de 20, a cidade precisava crescer, mas sempre esbarrava em um córrego. Na foto, a região onde hoje está a rua Major Diogo, no centro
Reprodução/Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo
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Em 1938, Francisco Prestes Maia foi eleito prefeito e começou a implantar um plano de avenidas, que consistia em abrir espaço para os carros e cobrir os córregos. Assim, surgiram importantes corredores de São Paulo: as avenidas 23 de Maio (córrego Itororó); Pompeia (córrego Água Preta); Sumaré, Pacaembu, Juscelino Kubitschek, Engenheiro Caetano Álvares
Reprodução/Acervo Fotográfico da Cidade de São Paulo
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O rio Anhangabaú deu lugar a uma enorme praça e suas águas nunca mais foram vistas. Quanto mais avenidas se construía, mais imóveis eram erguidos em volta delas, dando início ao problema de impermeabilização do solo
Reprodução/Acervo Fotográfico da Cidade de São Paulo
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Não demorou muito até que os habitantes voltassem a ver a água dos rios, mas dessa vez, em meio aos carros e edifícios. Na imagem, de 1958, a avenida construída sobre o rio Anhangabaú aparece coberta pela água, após uma chuva de verão
Arquivo/Estadão Conteúdo - 1.1.1958
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Quanto mais se canalizavam os córregos, mais a população sofria com inundações. A chuva que elevava o nível do rio Tamanduateí levava as águas onde antes era a várzea: a rua 25 de Março (foto)
Arquivo/Estadão Conteúdo - 6.2.1951
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Com o rio Tietê não foi diferente. O leito foi retificado e concretado. Mas aí, surge outro problema. Com o rio em linha reta e margens de concreto, a correnteza ganha mais força e facilita inundações em pontos mais estreitos. De volta ao cargo na década de 60, o prefeito Francisco Prestes Maia (foto) teve que lidar novamente com esse problema. Na imagem, ele visita as obras contra enchentes no Tietê
Arquivo/Estadão Conteúdo - 22.8.1963
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Embaixo da avenida Nove de Julho (foto) passa o córrego Saracura. Desde que foi coberto por concreto, cenas com essa podem ser vistas até hoje. Qualquer chuva forte pode transformar a avenida em rio
Kenji Honda/Estadão Conteúdo - 9.2.1976
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Em menores proporções no século passado, mas os paulistanos sempre enfrentaram problemas decorrentes da urbanização desenfreada
Arquivo/Estadão Conteúdo - 9.2.1965
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Um dos exemplos mais claros de ocupação desordenada das margens de rio é o Jardim Pantanal, na zona leste, localizado na várzea do Tietê. Nos últimos 20 anos, esse e outros bairros próximos registraram diversas inundações
Epitácio Pessoa/Estadão Conteúdo - 5.2.1999
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O vale do Anhangabaú é o ponto onde o córrego Saracura e o Itororó se encontram e formam outro córrego, o Anhangabaú. Após décadas de alagamentos na praça da Bandeira e no túnel, a imagem parece a mesma de 50 anos atrás
Mário Ângelo/Estadão Conteúdo - 27.2.2011
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Embaixo da avenida Pompeia passa o córrego Água Preta, que deságua no rio Tietê e também foi transformado em uma galeria subterrânea. Toda a água da chuva captada ao longo dele é escoada rapidamente para a parte baixa do bairro, o cruzamento com a avenida Francisco Matarazzo. Historicamente, a região enfrenta alagamentos como esse
Robson Fernandes/Estadão Conteúdo - 7.2.2009
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Assim como o Tietê e o Tamanduateí, o rio Pinheiros também foi retificado. Mas isso não significou que as águas dele fossem ocupar somente aquele canal. A várzea foi ocupada e o custo disso vem junto com a chuva. Localizado próximo à marginal, o Ceagesp (foto) é atingido frequentemente pela cheia do rio
Eduardo Nicolau/Estadão Conteúdo - 25.5.2005
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Enquanto a maioria dos córregos de São Paulo está oculta, o Aricanduva é visível. Mas isso não significa que a intervenção humana no curso dele tenha sido suficiente para evitar transbordamentos.
Eduardo Nicolau/Estadão Conteúdo - 4.2.2004
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A área impermeabilizada em todo o curso do rio piora a situação, porque faz com que toda a água da chuva caia nele
Marcelo K. Nishida/Estadão Conteúdo - 7.1.2011
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Uma cidade que escondeu seus rios e sempre pagou por isso. Desde que São Paulo começou a se tornar a metrópole que é, seus habitantes são obrigados a conviver com inundações e alagamentos durante o verão. Ano após ano milhares de pessoas sofrem devido ao erro histórico de gestores públicos. Com os avanços da engenharia, resta uma dúvida: será que um dia a cidade vai driblar a natureza?
Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo/Estadão Conteúdo