Bolsonaro falou sobre o tema durante a campanha
Marcelo Teixeira/Reuters - 30.10.2018O presidente eleito Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira (1º) que não vê problema em transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, uma de suas promessas de campanha.
"Eu não vejo um clima pesado em você transferir, mudar as embaixadas de Israel, não vejo nenhum problema", disse Bolsonaro durante uma coletiva de imprensa no Rio de Janeiro.
A mudança da embaixada para Jerusalém e o reconhecimento da cidade como capital israelense causa polêmica na comunidade internacional, sobretudo entre países árabes e europeus, pois dificultaria ainda mais um acordo de paz entre israelenses e palestinos.
Cidade sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos, Jerusalém também é reivindicada pelos palestinos como capital de seu futuro Estado, na parte oriental da cidade. Essa região, no entanto, foi ocupada pelo Exército israelense em 1967, que desde então controle as ruas, estradas e o trânsito de pessoas e veículos não somente na cidade sagrada com em todo o território.
Mais cedo, o presidente eleito utilizou o Twitter para reafirmar sua promessa de mudar a embaixada de local.
"Como afirmado durante a campanha, pretendemos transferir a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém. Israel é um Estado soberano e nós o respeitamos", afirmou Bolsonaro no tuíte.
"Não é nenhuma questão de vida ou morte, temos todo respeito com Israel, com o povo árabe, aqui num país onde todos convivem pacificamente, nós não queremos criar problemas com ninguém", disse o presidente eleito a jornalistas na tarde desta quinta-feira.
Ao longo da campanha eleitoral, Bolsonaro falou diversas vezes sobre a possibilidade da mudança de local e demonstrou seu entusiasmo por Israel.
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Na segunda-feira após o segundo turno, o capitão da reserva disse que recebeu cumprimentos do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, por sua vitória e afirmou esperar que Brasil e Israel trabalhem juntos em acordos que beneficiem que os dois países.
Caso a mudança de embaixada se concretize, Bolsonaro estará seguindo uma medida adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de quem é admirador.
Em dezembro, os Estados Unidos transferiram sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, um ato de reconhecimento de Jerusalém como capital israelense.
O ato de Trump e a promessa de Bolsonaro desagradam países árabes e a Autoridade Palestina, que reivindica o lado oriental de Jerusalém como a capital de um futuro Estado palestino.
Reação dos palestinos
Autoridades palestinas se uniram para criticar de forma explícita o anúncio do presidente eleito Jair Bolsonaro de mudar a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém.
"Trata-se de uma medida provocadora, que é ilegal diante do direito internacional e que não faz nada mais que desestabilizar a região", disse Hanan Ashrawi, alta autoridade palestina e representante da OLP (Organização para Librtação da Palestina), em entrevista nesta sexta (2) à agência AFP.
Ashrawi foi por anos porta-voz da delegação palestina nas negociações de paz e uma das principais vozes em Ramallah (atual capital da Palestina), além da primeira mulher a ser eleita para o Conselho Nacional Palestino.
Nas redes sociais, o grupo Hamas, que está no poder em Gaza e é acusado de radicalismo, deixou claro que não vê com bons olhos a decisão do Brasil. "Rejeitamos a decisão do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, de mover a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém e pedimos que ele abandone sua decisão", declarou o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri. Para ele, a iniciativa é um "passo hostil ao povo palestino".
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