Cruyff era conhecido por não se importar em fumar
Reprodução/TelegraphEm meados da década de 70, o técnico holandês Rinus Michels flagrou Johan Cruyff, um dos maiores craques da época,0 fumando no ônibus do Barcelona.
Irônico, o treinador se aproximou do atleta sem dizer uma palavra. Atrapalhado, o jogador tentou esconder o cigarro, mas o treinador preferiu apagá-lo em sua mão. A fama de fumante incontrolável era grande — e Cruyff não dava a mínima para o que diziam: no auge da carreira como jogador, chegou a fumar até 20 cigarros por dia.
Em 1991, sob o comando do Barça, Cruyff sofreu um ataque cardíaco em campo.
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Com muitos dos ídolos brasileiros a história não era diferente: Sócrates, Ronaldo Fenômeno, Roberto Carlos, Adriano e Garrincha fumavam e não escondiam. Apesar de terem sido excepcionais em campo, a traumatologista do esporte Alessandra Masi explicou que o tabagismo influencia diretamente no desempenho dos atletas: “Ao fumar, o rendimento do atleta cai de forma brusca".
Segundo Alessandra, o processo é químico: “O cigarro tem mais de 4.600 substâncias, mas são a nicotina, o alcatrão e o monóxido de carbono os principais responsáveis pela diminuição no rendimento de um atleta. Isso porque, ao dar um pico, a frequência cardíaca e a pressão arterial dos atletas fumantes aumentam pela ação da nicotina que, além de elevar os batimentos cardíacos, dimunui a quantidade de oxigênio que o músculo recebe. Já o alcatrão diminui a elasticiade pulmonar, ocasionando falta de ar e prejudicando resistência. O monóxido de carbono, por sua vez, compete com o oxigênio, fazendo com que o atleta precise forçar mais o coração dele para ter o mesmo rendimento de quem não fuma. Ele afeta diretamente a percepção e a visão de um jogador em campo”, explicou.
A sensação de bem-estar proporcionada pelo cigarro é um dos principais motivos que levam um atleta a fumar. Contudo, essa sensação também pode ser alcançada com a atividade física. “A nicotina libera serotonina e dopamina. Mas, a atividade física bem orientada acima de 20 minutos também libera essas substâncias no corpo. Muitas vezes, o atleta, acostumado com a sensação de bem-estar vinda dos exercícios físicos acaba sentindo falta dela no tempo livre. Por isso, o cigarro entra para suprir essa necessidade”, disse a especialista.
Além da queda no rendimento, atletas que fumam podem, a longo prazo, desenvolver doenças como enfisema pulmonar e aumento da pressão arterial, além de terem maior risco de AVC (Acidente Vascular Cerebral) e de infarto do miocárdio: “É o tipo de paciente que sempre vai ter pressão arterial elevada, coriza, tosse e falta de ar. Esses resultados são imediatos para quem fuma. Os tabagistas a longo prazo já sentem outros sintomas além dos citados acima, como fadiga e cansaço”.
Se o atleta é fumante, é importante ter um acompanhamento médico para prevenções. “Mesmo fazendo atividade física e dieta, a avaliação preventiva explica qual é o limite desse jogador, quanto ele tem de sobrecarga. Quando você começa a atividade física, o batimento cardíaco e a pressão arterial se elevam naturalmente. Quem é fumante tem mais dificuldade para regularizar a pressão, por isso, é preciso sempre acompanhar. Os dois maiores riscos de quem fuma e pratica atividade física de ponta são o infarto e o AVC”.
Segundo a especialista, ao parar de fumar, uma pessoa ativa sente os efeitos no corpo imediatamente: “Depois de 20 minutos de atividade física, a pressão arterial já começa a se regularizar. Após duas horas de exercícios físicos, o paciente já elimina a nicotina ingerida durante o dia. Depois de oito horas sem cigarro, a oxigenação está normalizada. Um dia sem fumar faz com que o tabagista elimine o muco acumulado. E, o melhor: depois de cinco a oito anos sem cigarro, o risco de ter infarto é o mesmo de quem nunca fumou”.