Manifestantes antirracistas são atendidos após carro avançar contra o grupo
REUTERS/Joshua RobertsAo menos três pessoas foram mortas neste sábado (12) após o confronto entre um grupo de supremacistas brancos e manifestantes contra o racismo na cidade de Charlotesville, na Virginia, Estados Unidos. Durante a briga generalizada, um veículo avançou contra a multidão, atropelando pessoas e se chocando com outros dois veículos. Há pelo menos 35 feridos, alguns em estado grave.
O confronto em Charlotesville aconteceu por volta do meio-dia, quando os supremacistas (pessoas que defendem a superioridade dos brancos) se preparavam para protestar contra a retirada da estátua de um general — a retirada do objeto ainda está em análise pela Justiça. Na noite de sexta (11), centenas de supremacistas já haviam feito uma vigília contra minorias, carregando tochas pela cidade e gritando palavras de ordem contra negros, imigrantes, gays e judeus.
Os supremacistas carregaram até rifles para o protesto
REUTERS/Joshua RobertsComo reação, manifestantes antirracistas também saíram às ruas. Quando os dois grupos se encontraram, eles se agrediram verbalmente. "Vocês não nos apagarão", cantou uma multidão de nacionalistas brancos, enquanto os manifestantes contrários levavam cartazes que diziam: "Nazi vai para casa" e “Destrua a supremacia branca".
Não demorou muito até a briga começar. Combatentes de ambos os lados usavam capacetes e seguravam escudos. Os supremacistas carregavam também símbolos de extremistas brancos e bandeiras de batalha dos Confederados. Alguns portavam armas de munição.
No meio da confusão, um motorista avançou seu veículo contra os manifestantes antirracistas. Veja as imagens:
De acordo com o delegado municipal Al Thomas, o motorista foi identificado e está preso, mas sua identidade não foi revelada. O caso está sendo tratado como homicídio.
Logo após a briga, o governador da Virgínia, Terry McAuliffe, declarou estado de emergência na cidade. O evento foi declarado "uma assembleia ilegal", o que permitiu à polícia dispersar os manifestantes.
Depois que a multidão foi dispersa, dezenas de agentes da lei vestidos com equipamentos de proteção foram vistos patrulhando as ruas, com pequenos grupos de manifestantes reunidos em bolsões nos arredores. No início da noite, as ruas da cidade estavam vazias.
Racismo e avanço da extrema-direita
Com cerca de 50 mil habitantes, Charlottesville é conhecida por possuir o maior campus da Universidade de Virginia. O conflito na cidade tem como pano de fundo a histórica luta contra o racismo nos Estados Unidos, em especial nos Estados do Sul, e o avanço da extrema-direita.
A cidade seria palco hoje do evento "Unir a Direita", que deveria reunir mais de 6.000 participantes, incluindo os principais líderes de grupos associados à extrema direita no país, para protestar contra a retirada da estátua do general Robert E. Lee (1807-1870). Ele fazia parte da Confederação, a união política selada entre os Estados escravagistas dos Sul dos Estados Unidos para lutar na guerra civil norte-americana, também conhecida como Guerra de Secessão (1861-1865). Caso vencessem a guerra, os Estados confederados manteriam a prática da escravidão, o que acabou não acontecendo. Para os manifestantes antifascistas, a estátua é uma forma de ainda glorificar a escravidão. A administração local determinou a retirada do monumento, mas o caso foi parar na Justiça.
Sem citar as manifestações de ódio dos supremacistas brancos, o presidente Donald Trump optou por criticar a "o ódio, o fanatismo e a violência de todos os lados".
— Condenamos de forma veemente esta exibição flagrante de ódio, fanatismo e violência de muitos lados, muitos lados, que acontece há muito tempo em nosso país.
A declaração do presidente recebeu diversas críticas, como do ex-vice-preisdente Joe Biden. "Há somente um lado", escreveu o democrata no Twitter.
O senador pela Flórida Marco Rubio usou da ironia para criticar o presidente: "Muito importante a nação escutar o presidente descrever os acontecimentos em Charlottesville por aquilo que eles são, um ataque terrorista dos supremacistas brancos", escreveu o parlamentar, utilizando justamente a expressão que não foi dita pelo presidente Trump.