Pimentel foi entrevistado na RecordTV Minas
Fagner Vilela / RecordTV Minas“Não se trata de corrupção, é perseguição”, rebateu o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), ao falar sobre a Operação Acrônimo que o investiga por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Na manhã desta segunda-feira (27), o candidato à reeleição foi o primeiro a participar da série de entrevistas que a RecordTV Minas promove com os postulantes ao cargo de líder do Estado.
Durante 10 minutos, Pimentel falou sobre a crise financeira que Minas enfrenta e os bastidores da política regional. Para ele, os problemas são estruturais e os responsáveis são os representantes das gestões tucanas que o antecederam. O caminho de mudança apontado pelo petista passa pela troca do Presidente da República, Michel Temer (MDB), que segundo ele, é um "pesadelo".
Em 2015, a Polícia Federal desencadeou a operação Acrônimo, que apura um suposto esquema de lavagem de dinheiro para as campanhas eleitorais, incluindo a de Pimentel ao Governo do Estado. Questionado sobre assunto, ele defendeu que não passa de uma perseguição política.
— É até bom você me fazer essa pergunta porque me permite um espaço para mostrar do que se trata. Você falou sobre corrupção, mas neste caso não tem nada de corrupção. É perseguição. Foi o que montaram contra mim e o meu partido no Brasil inteiro. A grande vítima hoje chama-se Luís Inácio Lula da Silva. E eu fui vitimado também. Tem três anos e meio que vasculham a minha vida, da minha família, fazem calúnias e difamações. Arrumaram uma delação mentirosa contra mim. Sabe o que encontraram? Nada porque não tem para encontrar. Eu não tenho conta na Suíça, no Caribe ou patrimônio oculto. Eu não tenho laranja operando em meu nome. Eu não tenho nada disso. Fui perseguido e continuo sendo perseguido. Os processos estão hoje todos na Justiça em Primeira Instância e eu estou me defendendo. Tenho absoluta tranquilidade em relação a isso. Mas isso atrapalhou. Quatro dos inquéritos já foram arquivados por absoluta falta de provas, mas a difamação, o dano à reputação das pessoas, isso fica. Isso é lamentável, mas é o que estamos vivendo no Brasil. Nós temos que lutar contra isso. E eu sou o candidato enfrentando essas perseguições sem temor nenhum delas.
Desde 2016, o salário dos servidores está sendo pago parcelado e com atraso. Perguntado sobre a origem do problema, o governador afirmou que trata-se de uma falha estrutural iniciada na gestão anterior. Apesar da dificuldade, ele defende que é possível reverter a situação em um possível segundo mandato.
— Há perspectivas de melhora. A questão do Estado de Minas Gerais é estrutural. Ela não foi enfrentada nos 12 anos que antecederam. Os governantes tucanos não fizeram o enfrentamento adequado e tiveram condições de fazê-lo. O nosso desequilíbrio vem da previdência pública. Nós vamos precisar de criar um fundo que capitalize e seja uma nova forma de financiamento de previdência pública porque só com o Tesouro é impossível sustentar esse rombo que a Previdência Pública produz. Alias, existia o fundo, que era chamado Funpemg, que foi extinto pelo então governador Antonio Anastasia, em 2013, que passou a mão no recurso do fundo, 3,2 bilhões na época, e com isso, inviabilizou o prosseguimento da capitalização desse fundo e fortalecimento dele para enfrentar o desequilíbrio estrutural. Eu não quero me alongar sobre isso, porque nós temos pouco tempo para responder, mas existe solução para o problema e nós vamos enfrentá-lo. É preciso haver uma troca no Governo Federal porque esse pesadelo chamado Temer, nós temos que tirá-lo do país e do governo. Um novo governo, do campo democrático popular, e a adequação estrutural da Previdência Pública resolve o problema de Minas Gerais e dos outros Estados porque não é só nós que estamos nesta situação.
As Santas Casas de Saúde e os hospitais filantrópicos, que respondem por 76% dos leitos de Minas, passam por dificuldades finaneiras. A Santa Casa queixa-se de atraso nos repasses do Governo do Estado, na ordem de R$ 40 milhões. Sobre uma possível solução do problema, Pimentel defende que o caminho é a reestruturação da Previdência.
— Eu acho que o desequilíbrio estrutural da previdência é o que está prejudicando o repasse de recursos da saúde. Apesar de ser verdade que nós temos algumas parcelas ainda não pagas para os hospitais filantrópicos, eu vou te dar um número que ninguém conhece: nós repassamos nestes três anos de governo, mais do que o governo passado repassou para a saúde em quatro anos. A campanha vai te mostrar esses dados com muita clareza e apuração. Ainda assim, há parcelas atrasadas que nós vamos regularizar. Agora, com toda certeza, resolvido o problema do desequilíbrio estrutural que vem da Previdência Pública, nós regularizamos com tranquilidade todos os repasses para os hospitais filantrópicos e os demais entes da saúde pública.
A Cidade Administrativa, sede do governo do Estado, é alvo frequente de críticas de Pimentel. Sobre o futuro do complexo, ele afirma que não é possível acabar com ele, mas a expectativa é de promover um uso mais eficiente.
— Acabar não tem jeito. O que eu pretendo fazer é criar uma comissão de entes não governamentais com a sociedade civil, como liderança dos servidores, dos trabalhadores, dos empresários e, com essa comissão, discutir qual seria a melhor utilização para aquele mostro chamado Cidade Administrativa. Ele é disfuncional e custa caro. A manutenção daquilo custa R$ 10 milhões por mês. Nós claramente não precisamos daquele tipo de investimento. Infelizmente foi feito, então nós temos que dar uma destinação para ele que não seja abrigar os funcionários públicos porque isso pode ser feito de uma outra maneira. A tentativa que estamos fazendo é descentralizar. É governar olhando para o interior do Estado. Criamos os Fóruns Regionais do governo para isso e vamos continuar nesta linha. A Cidade Administrativa, com toda certeza, não serve para essa modalidade de governo. Vamos discutir o que é melhor para fazer com ela.
Minas Gerais tem carga tributária maior do que os Estados de São Paulo e Goiás. Um dos problemas dessa estrutura econômica é a fuga das grandes empresas do Estado, principalmente na região do Triângulo Mineiro. Sobre a guerra fiscal, Pimentel defendeu que o empresariado não está deixando o Estado.
— Não tem ninguém fugindo de Minas Gerais. Nós temos 91 projetos de expansão e de atração de empresas. Mais de R$ 5 bilhões de investimentos, 12 mil empregos diretos. Infelizmente, a mídia não cobre isso. Notícia boa não dá Ibope. A carga tributária é baixa em Minas Gerais. Se juntar a soma do que é tributável no Estado, dá 3,5%. Este é o peso do ICMS no tamanho do “bolo econômico” do Estado. Nós zeramos o ICMS do diesel no transporte coletivo de passageiros para evitar que a passagem aumente.
Questionado sobre o sistema de segurança, o candidato defende que o modelo adotado em Minas Gerais é o caminho certo.
— Esse é o problema do Brasil. O país instalou um modelo de segurança que é um verdadeiro genocídio contra jovens pobres e negros principalmente. O que estão fazendo no Rio de Janeiro com a intervenção militar é um absurdo. É o contrário do que estamos fazendo em Minas Gerais, com as bases comunitárias. Segurança comunitária, polícia presente. Renovação da frota, mais policiais na rua, estão fazendo os índices caírem. Minas é um exemplo para o Brasil. É possível fazer segurança de boa qualidade sem fazer esse processo de militarização.
O ex-prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, seria candidato ao Governo do Estado pelo PSB. No entanto, um acordo nacional do partido com o PT acabou tirando ele da corrida. Perguntado se foi responsável pela situação, Pimentel negou.
— Não teve isso. O que aconteceu com o Marcio tem a ver com a disputa interna dentro do partido dele. Tinha duas direções no PSB e uma delas trinfou. Não era a do Marcio. Fizeram um acordo nacional com o PT. Tenho uma boa relação com o Marcio e espero continuar tendo.
A ex-presidente Dilma Rousseff exigiu que o MDB não estivesse na coligação para ela sair como candidata ao Senado. Questionado sobre as consequências disso na Assembleia Legislativa em caso de reeleição, o candidato afirmou que a situação já está superada.
— Não foi uma exigência. O que houve foi uma observação de que não seria confortável para ela, na chapa majoritária, ter deputados federais que votaram a favor do impeachment dela. É legítimo que ela pense assim. Hoje essa questão está superada e o MDB não está na nossa coligação.
Todos os candidatos ao governo do Estado concluirão a entrevista no MG no Ar respondendo a mesma pergunta, que é sobre a razão de querer ser eleito. Sobre sua reeleição, Pimentel defendeu que deseja continuar o diálogo com a população e fazer uma gestão focada na correção dos problemas “estruturais”.
— Porque nós queremos continuar esse modelo de governo que dialoga com o povo. Que só toma decisões a partir de amplas consultas populares. E que vai corrigir os desequilíbrios estruturais das contas do Estado, mas, ouvindo o servidor, fazendo o que for necessário sem atropelar ninguém. Minas Gerais é hoje uma trincheira da resistência democrática. Nós precisamos passar esse pesadelo que é o governo Temer, eleger um candidato do campo democrático popular. O meu é o Lula. Estou lutando incessantemente pelo Lula Livre, para nós conseguirmos equilibrar o Brasil, voltar a crescer e fazer Minas Gerais ter aquilo que ele merece: crescimento econômico e justiça social. É possível fazer isso. É possível fazer um mandato melhor do que esse, porque nesse nós fomos submetidos ao cerco implacável dos adversários de Brasília, especialmente do governo Temer.
A RecordTV Minas realiza uma série de entrevistas com candidatos ao governo do Estado, de 27 de agosto a 6 de setembro, às 8h, no programa MG no Ar, apresentado pelo jornalista Eduardo Costa. A ordem dos convidados foi definida em sorteio realizado na sede da emissora, com a presença de seus assessores. O primeiro deles foi o atual governador do Estado, Fernando Pimentel.
Confira as datas dos demais candidatos:
28/08 - Dirlene Marques (Coligação Frente Minas Socialista - PCB, PSOL)
29/08 - João Batista Mares Guia (Rede Sustentabilidade)
30/08 - Antonio Anastasia (Coligação Reconstruir Minas - PSDB, PSD, Solidariedade, PTB, PPS, PMN, PSC, DEM, PP, PTC, Patri e PMB)
31/08 - Romeu Zema (Partido Novo)
03/09 - Jordano Metalúrgico (PSTU)
04/09 - Adalclever Lopes (Coligação Minas Tem Jeito - MDB, PROS, PV, PDT, PRB e Podemos)
05/09 - Claudiney Dulim (Avante)
06/09 - Alexandre Domingues (PCO)
Assista à íntegra da entrevista de Pimentel: