Brasileiras dizem que ruas seguem tranquilas e população não está em pânico
Abedin Taherkenareh / EFE-EPA - 10.1.2020Os brasileiros que moram em Teerã, capital do Irã, garantem que o clima no país é bem mais tranquilo do que dão a entender as notícias e as imagens transmitidas no mundo inteiro desde o início do conflito com os Estados Unidos.
A paranaense Elisangela Souto de Camargo, 43, é formada em Letras e mora há quinze anos na capital. Ela diz que em momento algum faltaram produtos nos supermercados, seus filhos vão à escola e seu marido, iraniano, pode ir ao trabalho sem o menor problema. "O transporte funciona como antes e, tirando a apreensão natural em que ficamos, o dia a dia continua igual."
Noticiário sem restrições
Ficou sabendo da morte do general Qasem Soleimani pela TV local, no dia 3 de janeiro, logo depois do ocorrido e, acredita, antes de o mundo inteiro ser informado. "Não há nada censurado ou omitido. Temos acesso a sites também e, de modo geral, temos todas as notícias."
Funeral de Soleimani levou milhares às ruas de Teerã
Official Khamenei website/Handout via REUTERS - 6.1.2020Reforçando sua tese, ela cita que nesta sexta-feira (10) houve ampla cobertura das especulações sobre a queda do Boeing de uma companhia ucraniana, que pode ter sido derrubado acidentalmente por forças iranianas. "Não houve nenhuma confirmação de que o Irã derrubou o avião, até porque não acredito que alguém faria isso intencionalmente, mas não omitiram qualquer dado sobre o assunto."
A morte do general abalou tanto brasileiros quanto iranianos. "Ele fazia muito pelo povo e a situação econômica por causa das sanções internacionais só não piorou por causa dele", opina a brasileira. "Por isso tanta gente foi para as ruas, o que acho que nem o governo do Irã esperava."
Ela espera que o conflito não tenha novidades negativas e, de preferência, não ocorram mais mortes. Mas não se sente insegura.
155 brasileiros vivem no Irã
"Nós, brasileiros, somos muito bem tratados por aqui. Onde chegamos falam bem da nossa comida, das nossas roupas e do nosso futebol." Neymar hoje é mais famoso que Pelé no país, afirma. "Ele e vários outros jogadores, até porque alguns jogam aqui."
Dos 155 brasileiros no Irã, mais de 100 são mulheres, a maioria casadas com iranianos. Não há empresas do Brasil nem obras ou serviços realizados por companhias nacionais. E há 10 jogadores de futebol — como Mazola, que também falou com o R7.
As revelações da paranense Elisângela, que morava em Florianópolis até se mudar para o Irã, não param por aí. "As pessoas precisam conhecer melhor Teerã, é um local lindo. Moro no monte mais alto da cidade e hoje ele está todo coberto de neve, branquinho, incrível!"
Homem caminha em frente a outdoor homenageando Qasem Soleimani
Abedin Taherkenareh / EFE-EPA - 10.1.2020Mais seguro que o Brasil
Outra brasileira, Thainá Cristina Omoti, de 33 anos, nasceu em São José do Rio Preto, no inteiro de São Paulo, e há 20 anos está no país. Em sua opinião, "o Irã continua sendo um local mais seguro que o Brasil".
"Aqui não é o Iraque, lá sim a situação é mais complicada", compara.
É formada em Medicina na Universidade de Teerã, mas trabalha como tradutora de filmes brasileiros para as televisões locais e como intérprete em eventos de maquiagem — "muito comuns por aqui", conta. "A gente pode sair na rua às 10h da noite sem medo de violência e segue sendo assim, mesmo após essa possiblidade de guerra."
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Thainá, que acompanha os telejornais iranianos para se informar, admite que ficou preocupada quando soube dos protestos que culminaram no ataque à embaixada dos Estados Unidos, na capital, na virada do ano. "A gente não sabe o que pode acontecer, se pode ou não ocorrer um ataque inesperado, mas sai de casa e vê que está tudo normal, os locais públicos estão abertos e não se vê pânico em lugar nenhum."
Ela diz que tanto o governo do Irã quanto a Embaixada do Brasil ajudam a tranquilizar a população, orientando a população a não se desesperar e dizendo que a situação está sob controle.
Um dos irmãos da tradutora paulista mora com ela em Teerã e serve o Exército do país. E mesmo ele, diz Thainá, não vê motivos para desespero. "Ao que tudo indica, Irã e Estados Unidos estão se entendendo e nada vai acontecer de mais grave."
Iranianos calados
Um terceiro brasileiro, o atacante Mazola, de 30 anos, teve fama no Brasil quando jogou no São Paulo. Após algumas transferências, foi parar no Tractor Sazi, na pequena cidade de Tabriz.
Apesar de estar de folga no Brasil, por causa das férias no campeonato iraniano, corrobora a sensação de segurança das brasileiras que falaram com o R7. "Cheguei no Irã em julho do ano passado e nunca tive problema com segurança."
"Quando aconteceu o ataque eu já estava no Brasil. Estou aguardando o clube me avisar quando eu devo voltar." Segundo a assessoria de imprensa de Mazola, a informação que se tem do clube é que o contato logo será feito e ele voltará nos próximos dias ao país.
Como não há brasileiros nem em seu clube nem no hotel onde mora, vive isolado, falando eventualmente com um amigo peruano, também atleta. Por isso não tem informações novas sobre a região. "Os iranianos são bem discretos, não falam abertamente sobre tudo. Então, tenho acompanhado as notícias apenas pela TV do Brasil", comenta Mazola.
Para ele, mesmo se a situação piorar, com novos episódios do conflito, duvida que os jogos fiquem sob ameaça. "Os iranianos amam futebol e se preocupam bastante com os atletas. Os estádios lotam. Acredito que eles não vão colocar os jogadores e os torcedores em risco."