Salvini pode ser julgado por bloqueio de porto
Flavio Lo Scalzo/Reuters - 27.1.2020O Senado da Itália permitiu nesta quinta-feira (30) a abertura de um julgamento contra o líder da extrema-direita Matteo Salvini por há um ano bloquear o barco da ONG espanhola Open Arms com imigrantes a bordo, na época em que ele estava à frente do Ministério do Interior.
A decisão da Câmara Alta contou com os votos dos partidos no governo: o Movimento 5 Estrelas (M5S) e o Partido Democrata (PD), a aliança Livres e Iguais (LeU) e o Italia Viva (IV), este último com uma participação decisiva, entre outros.
Especificamente, 149 senadores votaram a favor de processo, enquanto 141 ficaram contra e houve uma abstenção.
"Tenho orgulho de ter defendido a Itália: faria de novo e de novo, também porque somente neste mês de julho os desembarques são seis vezes maiores aos do mesmo período do ano anterior, com a Liga no governo. Sigo em frente, com a cabeça erguida e a consciência limpa", disse Salvini em nota.
Em agosto de 2019, o então ministro bloqueou o navio Open Arms durante 20 dias, com cerca de 150 imigrantes salvos no mar, como parte de sua política de portos fechados. O Tribunal de Ministros de Palermo pede que ele seja processado por sequestrar pessoas.
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A votação no Senado não implica sua acusação direta, mas isso dependerá de uma audiência preliminar no Tribunal de Palermo, na qual será decidido se o líder da Liga será levado a julgamento ou, pelo contrário, arquivar o caso.
Salvini promoveu uma forte política de portos fechados aos navios de organizações humanitárias no Mediterrâneo central quando era ministro do Interior, cargo que deixou em setembro do ano passado.
O navio da Open Arms, ONG sediada na Catalunha, resgatou quase 150 imigrantes nas águas do Mediterrâneo em várias operações nos primeiros dias de agosto de 2019 e esperava um porto europeu para o desembarque.
Salvini se recusou desde o primeiro momento a oferecer um porto e a Open Arms, por sua vez, rejeitou a oferta das autoridades espanholas de ir aos portos de Algeciras e Mahon: a travessia seria muito longa e arriscada.
Em 15 de agosto, a Justiça italiana respondeu a um apelo da ONG contra o veto de Salvini e permitiu que o navio humanitário entrasse nas águas da ilha de Lampedusa, o enclave mais ao sul do país, para se proteger do mau tempo.
Finalmente, na noite de 20 de agosto, o Ministério Público permitiu que os 83 imigrantes que ainda estavam a bordo desembarcassem em Lampedusa, encerrando a odisseia.
Durante seu discurso no Senado, o líder da extrema-direita rejeitou essa votação como uma questão "política" e criticou seus antigos parceiros do M5S, que no passado o defenderam em um caso semelhante e agora permitem sua acusação.
O senador garantiu que "o navio pirata" se recusou a ir ao seu Estado de bandeira, ele acreditava que agia de acordo com todo o governo e com o primeiro-ministro Giuseppe Conte, seu "cúmplice", e dizia que seu dever "sagrado" era defender as fronteiras da "invasão".
Salvini terminou agradecendo àqueles que permitem seu julgamento: "Eles me dão um presente, irei com a cabeça erguida e as costas retas", alertou ele sendo ovacionado em seguida, sempre na busca de ganhos políticos e cuja popularidade aparece em baixa nas últimas pesquisas.
O político sempre defendeu que suas ações eram compartilhadas por todo o governo. No entanto, a senadora do M5S, Elvira Lucia Evangelista, lembrou-lhe que o próprio Conte o pressionou para que os mais vulneráveis e menores de idade pudessem desembarcar.
"Era uma política pessoal de Salvini", concluiu.
O ex-ministro enfrenta outro processo por um caso semelhante, devido ao bloqueio, em julho de 2019, de um navio da Guarda Costeira italiana com 131 imigrantes a bordo, e a audiência para decidir se deve abrir o processo deve acontecer em outubro.