-
"Minha Nossa Senhora do Bilhete Único", "estratégia do governo pra gente usar metrô", "multiplica, senhor" e "casa comigo". Isso é o que o paulistano Guilherme Leão, segurança do Metrô na Estação Sé, em São Paulo, mais tem ouvido ultimamente. O rapaz de 22 anos experimenta uma rotina de celebridade desde que ganhou os rótulos de "muso" e "gato do Metrô", aplicados quando uma foto sua se espalhou pelas redes sociais. Concursado da companhia de transporte desde 2012, Guilherme ainda estranha o assédio, mas já sabe que agora precisa conciliar o trabalho na Sé com a recém-adquirida fama
Texto: Amanda Mont'Alvão Veloso, do R7Daia Oliver/R7
-
Modelo desde o fim da adolescência, Guilherme resolveu prestar o concurso do Metrô porque precisava de um emprego estável e já admirava a empresa. A prova foi prestada em 2010, mas o emprego, de fato, só veio em agosto de 2012. Nesse intervalo, Guilherme chegou a trabalhar como modelo em Xangai, na China. Ao voltar para o Brasil, fez mais alguns trabalhos na área, mas ainda estava incomodado com a falta de estabilidade.
— Já tinha meus compromissos financeiros e queria ter renda para pagá-losDaia Oliver/R7
-
O sonho profissional, porém, tinha a ver com fama e arte, o que explica a naturalidade com que ele, e o Metrô, estão lidando com o recente assédio
— Sempre quis uma carreira artísticaDaia Oliver/R7
-
O Metrô soube explorar a "descoberta" de Guilherme com bom humor em uma campanha no Facebook, na qual divulga que "Seguranças do Metrô não são só bonitos. Eles são treinados em técnicas de imobilização, primeiros socorros e atendimento ao público". Na onda da popularidade de Guilherme, a publicação alcançou mais 160 mil visitas na rede social e é considerada um recorde pelo departamento de comunicação do Metrô
Reprodução/Facebook
-
A missão de segurança anima Guilherme.
— Prover a segurança de uma pessoa é uma coisa muito interessante.
O muso e bom moço até salvou uma vida. Ele e a equipe socorreram um senhor que havia sofrido um ataque no coração, na estação da Sé. Durante 40 minutos, se revezaram na massagem cardíaca e conseguiram reverter o quadro de saúde o homem, que já não tinha mais batimentosDaia Oliver/R7
-
Guilherme também participou da operação que recolocou em funcionamento os vagões na linha 3, em fevereiro. Uma falha na composição levou os usuários a acionarem o botão de emergência em sete trens, e muitos passageiros começaram a andar nos trilhos.
— Até jogaram barras de ferro na gente [seguranças]. Foi bem complicadoDaia Oliver/R7
-
Nas manifestações de junho, Guilherme foi chamado para ajudar nas estações da avenida Paulista, onde ocorriam confrontos, e precisou enfrentar os efeitos de gás lacrimogêneo jogado dentro dos túneis. Ainda assim, ele não considera o cargo de segurança como algo de risco
— Tenho prazer de trabalhar aqui porque na minha estação passam mais de 600 mil pessoas por dia. Gosto de lidar com elas. Aqui passa gente do Brasil inteiroDaia Oliver/R7
-
Foi no Metrô que Guilherme conheceu a namorada, Thais, com quem está junto desde outubro do ano passado. Ela esperava uma amiga na estação Trianon-Masp quando o segurança a avistou. Os dois trocaram olhares.
— Ela até deu um "miguezinho" pra tirar uma foto minha.
Os olhares logo viraram uma troca de telefones, e os dois descobriram afinidades, inclusive profissionais — ela também é modeloDaia Oliver/R7
-
O assédio, vindo com bilhetinhos e pedidos de telefone, já ocorria antes de a foto de Guilherme ser divulgada nas redes sociais.
— Agora ficou 100% pior.Daia Oliver/R7
-
A comoção virtual se reproduz em suspiros na estação da Sé. Enquanto a reportagem do R7 fazia fotos do segurança-muso, na última sexta-feira (21), meninas, moças e mulheres aguardavam a sua vez para chegar perto do moço fardado e eternizar o momento com uma foto
Daia Oliver/R7
-
O sucesso de Guilherme coincide com o retorno dele aos trabalhos de modelo, o que foi possível por causa da disponibilidade de horário. Ele diz ser muito agradecido a quem espalhou sua foto pelas redes, e agora quer investir no teatro
— Ajuda a ter mais desenvoltura nos trabalhos de modelo, e acho que melhora até a vidaDaia Oliver/R7
-
Outro plano é o de ser produtor musical. A atividade é um hobby: Guilherme passa horas na frente do computador, "viajando" enquanto compõe música eletrônica com a ajuda do programa Fruity Loops e dos diversos aplicativos que baixa para ter outros instrumentos. Para ouvir e se inspirar, ele gosta de escutar Avicii, Skrillex, Afrojack e também reggae.
— Sou bem ecléticoDaia Oliver/R7
-
A farda de segurança certamente contribuiu para que ele fosse mais notado, avalia Guilherme, aos risos.
— A mulherada tem fetiche com essa coisa de policial, segurança... sem o uniforme, eu passo batidoDaia Oliver/R7
-
Ele também ri, quase que envergonhado, ao ser perguntado sobre a própria beleza.
— Modéstia à parte, acho que dou pro gasto.
Com 1,87, e 80 Kg, esse geminiano afirma que ainda quer melhorar e ganhar músculos. As garotas que se aglomeram em torno dele para conseguir uma foto asseguram, implicitamente: não precisaDaia Oliver/R7