Pietton: Brasil já é uma potência e deve trabalhar com a França de igual para igual
Fábio Cervone/R7As recentes denúncias de que autoridades brasileiras foram espionadas pela agência de segurança dos Estados Unidos são “chocantes e exigem resposta”. A opinião é de Denis Pietton, novo embaixador da França no Brasil.
Em entrevista exclusiva ao R7 nesta quarta-feira (16), Pietton disse que a “França vê positivamente uma ação coletiva” para regular as atividades na internet, conforme proposto pela presidente Dilma Rousseff em setembro, durante a abertura da Assembleia-Geral da ONU.
— Por que não [fazermos um marco legal] baseado na proposta de Dilma Rousseff!?
Pietton enfatizou que o Brasil já é uma “grande potência” e que merece um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. O embaixador reafirmou o interesse do presidente François Hollande em fazer uma visita de Estado ao Brasil, talvez ainda este ano.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
R7 – Quais são as prioridades do governo francês nas relações diplomáticas com o Brasil?
Denis Pietton – As prioridades são várias, mas existe uma principal, que é ser um parceiro global do Brasil. Neste sentido, a França, independente do governo, sempre defendeu um assento para os brasileiros no Conselho de Segurança da ONU. O que nós apoiamos é que o Brasil assuma seu papel no cenário internacional.
Estamos contentes com a participação do Brasil na missão da ONU no Haiti em face de estabilização do país. Assim como que [o Brasil] desempenhe sua função no plano econômico no G20 para a melhora da estabilidade internacional. Nós sabemos que o Brasil é um país ambicioso. Queremos acompanhar o seu desenvolvimento em todos os campos. O país já é uma grande potência, por isso as trocas devem ser nos dois sentidos, de igual para igual.
R7 - O presidente François Hollande virá mesmo ao Brasil? É possível antecipar algo da agenda oficial?
Pietton – O presidente Hollande anunciou que virá ao país. Nós trabalhamos atualmente para alimentar essa parceria estratégica. O Brasil tem sido cortejado por todo o mundo, nós pensamos que a França pode fazer a diferença nesta relação. A data dependerá da agenda dos dois chefes de Estado.
Em relação à visita oficial, é evidente que em um país como o Brasil não podemos nos contentar com [uma visita] apenas a capital federal [Brasília]. Eu acredito que o presidente passará também em São Paulo que é um centro financeiro e cultural da nação.
R7 - Em termos comerciais, quais são os setores em que é possível ampliar os negócios e parcerias?
Pietton – Quando a presidente Dilma foi à Paris em 2012, os dois chefes de Estado comunicaram o interesse em dobrar o comércio entre os países até 2020. Isto é algo que parece ambicioso, mas que é perfeitamente possível tendo em vista o crescimento do nossos negócios. O comércio entre os dois países está atualmente em aproximadamente 8 bilhões de euros (R$ 23 bilhões).
Mas não podemos limitar as relações econômicas bilaterais apenas ao comércio: nós somos o quarto maior investidor internacional no Brasil. Existem cerca de 650 mil de trabalhadores brasileiros que dependem desse investimento, e este número continua a aumentar. As empresas francesas precisam investir no Brasil, pois é mais fácil produzir aqui do que importar os produtos, o que paralelamente também promove uma transferência tecnológica. Ou seja, não olhamos apenas o comércio tradicional, mas, sobretudo o desenvolvimento de todo o país.
Os setores de excelência francesa [para parcerias] continuam praticamente os mesmos: as industrias e infra-estrutura nos transportes, na saúde - em que já há uma enorme presença na fabricação e pesquisa de medicamentos -, no setor de tecnologia da informação, mas principalmente, no desenvolvimento sustentável, que creio ser prioritário também para o Brasil.
R7- Após um longo período de negociação, é possível acreditar que um acordo entre a UE (União Europeia) e o Mercosul sairá em breve?
Pietton – Nós acreditamos que a negociação entre Mercosul e União Europeia é benéfica para os dois lados. [Em relação às acusações brasileiras de protecionismo agrícola], nós ficamos bastante contrariados, já que a UE é o primeiro comprador de produtos agrícolas do Brasil no mundo. Nós importamos dez vezes mais estas mercadorias do que vendemos para cá.
É importante primeiramente que o Mercosul atinja um entendimento entre seus membros, o que irá facilitar muito as negociações. É necessário que [a negociação] seja um diálogo em que todos possam sair ganhando, o que significa que é preciso ter disposição para se fazer concessões.
R7- Dilma Rousseff propôs recentemente na Assembleia Geral da ONU um tratado internacional de governança da internet. A França pode ser um aliado?
Pietton – Nós compreendemos a reação brasileira [às denúncias de espionagem]: bem forte e perfeitamente justificada. Nós também condenamos esse tipo de atividade. Nosso ministro de relações exteriores, Laurent Fabius, disse que isto é algo “inaceitável”. O presidente Hollande também sustentou a ideia de um dialogo internacional para proteger o domínio privado na internet. A França vê positivamente uma ação coletiva nesse âmbito. Por que não [fazermos um marco legal] baseado na proposta de Dilma Rousseff!?
Isso poderá ser tratado de forma franca e sem tabu entre os dois países em um nível de chefes de Estado. Este é um assunto estratégico que está no centro da independência, segurança e liberdade pública. As revelações [de espionagem] são chocantes e exigem resposta.
R7 - Quais são as suas expectativas para os seus próximos anos de trabalho aqui no Brasil?
Pietton – Meu maior objetivo aqui, pautado pelas autoridades francesas, será fazer com que a França faça a diferença, que acredito que ela já o faz. E também que tenhamos mais da França no Brasil e, igualmente, mais do Brasil na França.
A grande oportunidade entre os dois países é que nunca fomos indiferentes um com o outro, [há] um interesse recíproco. Por exemplo, o primeiro destino turístico dos brasileiros na Europa é a França. Queremos que isso se mantenha assim.
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