O material bruto do primeiro longa-metragem do pernambucano Camilo Cavalcante está disponível em versões impressa e digital
Folha de PernambucoDesde 2014, quando foi lançado, o filme "A história da eternidade" ecoa na cena cultural pernambucana, sobretudo pela beleza da sua composição. Hoje, seis anos depois, o primeiro longa-metragem do cineasta Camilo Cavalcante ganha outra plataforma. Agora em livro da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), o roteiro original do trabalho está ao alcance de Pernambuco e do mundo. A edição impressa custa R$ 30; enquanto o e-book, R$ 9. As duas opções estão disponíveis no site da editora (www.cepe.com.br).
À mão, um roteiro original é a possibilidade de adentrar nos processos através dos quais o filme ganhou vida. É uma forma íntima de acesso à linguagem do diretor e do próprio cinema, para além do que é refletido com o auxílio das câmeras. O filme ganhou 27 prêmios em festivais do Brasil e do exterior. Apesar de já ter provado o valor da obra para o cinema, Camilo optou por lançar "A história da eternidade" em livro como forma de explorá-lo a partir de outras áreas do conhecimento. "O roteiro de um filme, sendo ele um texto escrito, difere do produto final, não apenas por se tratar de linguagens diferentes, mas por conter alterações na história contada, já que os dois são feitos em momentos e situações distintas [...] com esta publicação, o roteiro original do filme deixa de ser um meio para tornar-se também objeto de uma literatura específica", explica o cineasta.
O roteirista e diretor ainda reafirma a importância do livro para o cinema pernambucano e sua documentação. "No Brasil, já foram publicados diversos roteiros de filmes nacionais, mas hegemonicamente estas publicações referem-se apenas a filmes produzidos no eixo Rio-São Paulo. Temos vários roteiros de filmes norte-americanos e europeus editados no País. Já a publicação de roteiros de filmes nordestinos é escassa, quase inexistente", explica.
A obra está à venda no site da editora
Folha de PernambucoA obra está à venda no site da editora - Crédito: Divulgação
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Nas suas 213 páginas, o livro traz, ainda, avaliações de Artur Xexéo, Paulo Cunha, Ana Catarina Pereira e João de Mancelos, que introduzem a publicação com palavras que só agigantam a obra. "'A história da eternidade' tem uma relação muito próxima com o movimento mais bem-sucedido da cinematografia nacional, o Cinema Novo. Mas não foi com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça que Camilo Cavalcante fez sua obra. O cineasta parece ter muitas ideias na cabeça e sabe muito bem onde fixar a sua câmera para apresentá-las", sentencia Xexéo.
A obra também se vale de fotografias para contar um pouco mais do processo de produção. Elas aparecem quando o leitor acaba o roteiro e somam-se à experiência como uma forma única de apreciar uma produção inicialmente pensada apenas para as telas. Para quem não assistiu ao filme, é uma introdução, um convite para conhecê-lo em imagens e sons. Para os que já assistiram, é uma solicitação de retorno.
Enredo
"A história da eternidade" fala de um sertão que, na realidade, é o universo inteiro. A partir das histórias de três mulheres, de três diferentes gerações, a obra é construída pelos amores, desejos e destinos das personagens. Alfonsina (interpretada por Débora Ingrid), Querência (Marcélia Cartaxo) e Das Dores (Zezita Matos) são pilares da trama, filmada em 2012, em Santa Fé, Distrito de Pau Ferro, no Sertão de Pernambuco. O destaque do longa também vai para o personagem do ator Irandhir Santos, Joãozinho: "Escapa do arco esticado pelas mulheres -e por isso mesmo está dentro dele, tal um flecha [...] uma das mais sofisticadas representações da arte já produzidas pelo cinema brasileiro [...] o criador desafiado pela tragédia do cotidiano", define o pesquisador Paulo Cunha.