Os corpos foram colocados dentro de sacos mortuários verdes e levados depois para um hangar do aeroporto da ilha
03.10.13/REUTERS/Nino Randazzo/ASPLampedusa teve nesta quinta-feira (3) a pior tragédia relacionada à imigração nos últimos anos. Mais de 130 imigrantes ilegais morreram e cerca de 200 estão desaparecidos depois do naufrágio de um barco perto da pequena ilha.
Segundo as autoridades, o navio partiu da Líbia e transportava entre 450 e 500 imigrantes. Apenas por volta de 150 foram salvos, o que suscita temores de um registro de cerca de 300 mortos.
"Não temos mais lugar, nem para os vivos nem para os mortos", declarou, abatida, a prefeita de Lampedusa, Giusi Nicolini.
— É um horror, um horror; eles não param de deixar corpos.
Pelo menos 40 novos corpos foram encontrados por mergulhadores da guarda-costeira, dentro e nas imediações da embarcação, que está a cerca de 40 m de profundidade. A imprensa falou de dezenas de corpos de mulheres e crianças.
"Foi terrível ver os corpos das crianças", declarou à rede de televisão Sky TG24 Pietro Bartolo, uma autoridade de saúde da ilha, muito emocionado. Lampedusa "não tem caixões o bastante" e teve que receber mais de outros lugares, disse.
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Roma decretou uma sexta-feira de "luto nacional" e um minuto de silêncio será respeitado em todas as escolas e antes de todas as partidas de futebol do Campeonato Italiano.
O vice-primeiro-ministro Angelino Alfano, foi ao local, analisar as circunstâncias da tragédia. Os imigrantes, na maioria somalis e eritreus, tinham partido do litoral líbio. O acidente aconteceu "a 0,3 milha náutica [550 m]" da costa, disse.
O barco de pesca começou a se encher de água e, "com medo que ele afundasse, os imigrantes atearam fogo a um cobertor [para chamar a atenção]. Mas isso provocou um incêndio, e o navio virou", segundo Alfano.
O pescador Rafaele Colapinto explicou à Sky TG24 que tinha ido em ajuda aos imigrantes: "Vimos um oceano de cabeças. Levamos meia hora para tirar cada um da água porque eles estavam oleosos por causa do diesel".
No porto, corpos estavam alinhados dentro de sacos mortuários verdes. Sem um lugar para colocá-los, eles foram levados depois para um hangar do aeroporto da ilha.
Uma jovem eritreia ainda viva foi encontrada entre eles, depois que um membro das equipes de socorro percebeu que ela ainda respirava. Ela foi levada ao hospital de Palermo, na Sicília, onde se encontra em estado grave, desidratada, com hipotermia e pneumonia. Ela ingeriu o diesel que vazou do barco, assim como as outras vítimas.
Revoltada, a prefeita Nicolini enviou um telegrama ao primeiro-ministro Enrico Letta pedindo que fosse contar os mortos com ela e acusou a Europa de "ignorar (...) o enésimo massacre de inocentes que acontece perto da ilha". Ela lembrou que Lampedusa, mais próxima da costa norte-africana do que da Sicília, é "há anos" o destino dos imigrantes clandestinos.
"É um drama europeu, não apenas italiano", explicou Alfano, pedindo que a Itália, que recebeu 25 mil imigrantes este ano (três vezes mais do que em 2012), possa estender suas patrulhas "para além de suas águas territoriais".
A ministra da Integração, Cécile Kyenge, originária da República Democrática do Congo e primeira negra em um governo italiano, pediu uma coordenação europeia para formar "corredores humanitários com o objetivo de tornar mais seguras essas travessias, que registram a atuação de grupos criminosos".
Um jovem tunisiano que está entre os resgatados, foi reconhecido como um dos responsáveis pela organização da travessia e levado pela polícia.
O presidente italiano, Giorgio Napolitano, pediu que a "Europa interrompa o tráfico criminoso de seres humanos em cooperação com os países de procedência" e considerou "indispensável a vigilância das costas onde começam essas viagens de desespero e morte".
O Papa, que visitou Lampedusa em sua primeira viagem para fora de Roma, no início de julho, falou de "vergonha", tendo-se em vista as "várias vítimas de mais esse naufrágio".
Segundo a rede de ONGs Migreurop em Paris, em vinte anos, 17.000 imigrantes morreram tentando chegar à Europa. A maior tragédia até hoje aconteceu em junho de 2011, quando de 200 a 270 imigrantes originários da África Subsaariana se afogaram tentando chegar a Lampedusa.