Jogadores testam games independentes no Festival BIG
Filipe Siqueira/R7
Desenvolver games é a profissão dos sonhos para muitos que cresceram com um Nintendinho ou um Mega Drive. Antes, imaginar uma carreira focada em criação de jogos interativos parecia um ideal inatingível, mas as coisas mudaram. Enquanto grandes estúdios abrem as portas cada vez mais para profissionais brasileiros, se torna cada vez menos complicado criar um game simplesmente do zero.
Todo esse universo alternativo está presente no Brazilian Independent Games Festival, ou simplesmente BIG Festival, para os mais íntimos. As conversas por lá não giram apenas sobre quais jogos ou mecânicas são melhores, ou simplesmente qual a nova franquia está fazendo sucesso, mas em torno de negócios.
Sim, para entender como é o (geralmente complicado e torto) parto de um game enumeramos cinco passos essenciais para um desenvolvedor independente — seja nacional ou estrangeiro —desenvolver um jogo de sucesso.
1) Planejamento
Um bom número de palestras do BIG foi focado nisso. Partindo do pressuposto que você já possui uma ideia sedimentada na cabeça, é preciso ter visão de negócios e se planejar. Ter um razoável conhecimento de orçamento é obrigatório, assim como um bom entendimento de como funciona o mercado. Saber apenas programar ou possuir técnicas narrativas avançadas não resolve todos os problemas.
O Vitor Severo Leães, sócio da Swordtales, expressou isso perfeitamente em uma única frase durante a apresentação do game Toren, uma superprodução nacional:
— Com o modelo de financiamento atual, focado em leis de incentivos, não dá pra errar no planejamento.
2) Ir atrás do dinheiro
É aqui que as coisas apertam para os independentes. Existem dois caminhos distintos para conseguir financiamento e fazer um game virar realidade: através de leis de incentivo ou diretamente com publishers. O primeiro caminho é complicado no sentido de exigir conhecimento dos mecanismos de financiamento público e planejamento redobrado: tudo deve estar perfeitamente orçado para quando o projeto for apresentado, já que não será possível pedir mais grana depois ou mesmo deixar sobrar dinheiro em caixa.
A boa notícia é que a Ancine (Agência Nacional de Cinema) está mais receptiva para games, uma vez que um estudo recente do órgão indicou games como um produto audiovisual que podem ser financiados pela Lei Rouanet, como apontou o secretário executivo da agência, Maurício Hirata, também presente no evento.
Uma das iniciativas da Ancine é justamente financiar jogos autorais, que provavelmente não seriam aceitos por publishers, que precisam pensar em lucros. Segundo Hirata, jogos educativos e culturais são contemplados em iniciativas distintas da agência.
Caso não queira utilizar a Rouanet, uma opção é uma publisher financiar o game. Mais uma vez é importante ressaltar: planejamento é extremamente necessário, além de respeito aos prazos estabelecidos. Também é necessário lembrar que a publisher é parceira no desenvolvimento, de forma que eles darão pitacos sobre os mais diversos assuntos até tudo ficar pronto.
— Muitas vezes, os desenvolvedores, vários deles autores, pensam no game exclusivamente como uma produção artística. Mas é necessário pensar na marca que está se desenvolvendo, criar uma demo jogável e ter uma proposta de impacto. Geralmente ele não terá uma segunda oportunidade para apresentá-la —, ressalta Christopher Sturr, diretor de negócios da Digital Dinossaur.
Palestrantes discutem modos de captação financeira para games independentes
Filipe Siqueira/R7
3) Lançamento
Mesmo com um game financiado pela Lei Rouanet, caso de Toren, é preciso mais dinheiro para fazer marketing e mais um pouco para lançar. Mais uma vez, existem duas opções: uma publisher ou simplesmente lançar tudo por conta própria em plataformas digitais. Nenhum dos dois caminhos é completamente simples.
Com uma publisher será necessário vender mais cópias para o jogo se pagar, já que ela ficará com parte dos lucros e com a auto-publicação existirá a dependência do boca a boca para o game vender como o esperado.
A dica de Cédric Bache, fundador da Neko Entertainment, é: "seja sucinto na apresentação". Em resumo: não adianta ser apenas apaixonado pela própria produção se não tiver capacidade de torná-la atrativa.
4) Olhe para os lados
Com o game lançado, jogadores felizes e bons reviews mostrando que a produtora fez um bom trabalho, é hora de enxergar as coisas ao redor. Oportunidades de negócios existem para todo canto para encher os cofres da empresa. Uma delas, especialmente focada durante uma rodada de palestras no BIG foi como as várias telas — cinema, TV e outras — podem trabalhar junto com os games.
— Games e smartphones são uma forma poderosa de aprofundar e tornar ainda mais significativas as experiências com propriedades intelectuais —, afirmou Alexandre Mandryka, da Game Whispering. E o papo foi além de apenas adaptar filmes para games, e focou-se efetivamente em criar uma nova experiência interativa.
— O processo de maturação da marca é lenta, mesmo para as grandes —, afirmou Arthur Tilieri, da Turner Broadcasting. — A Hora da Aventura demorou cerca de quatro anos para se tornar tão conhecida e sustentar produtos transmídia, como apps pagos e games. Mesmo que a empresa não produza conteúdo transmídia, é possível estabelecer parceiras para levar o projeto a frente.
O fato é: com tablets, smartphones, computadores e TV se tornando mais inteligentes, o público quer seus personagens favoritos em todas as telas, então não se pode ter medo de engordar uma franquia e torná-la mais horizontal.
5) Olhe para frente
Ter um game de sucesso lançado e com o público feliz não é o fim do caminho. É preciso pensar no futuro. Que tal uma sequência? Muitos produtores viram a cara, mas é um bom meio de manter a saúde financeira de uma desenvolvedora independente.
Então, não esgote o caixa da sua empresa e nem suas ideias, porque o segundo desafio surge logo após o primeiro ser completado — às vezes antes.