Qualquer abertura da clínica possuía grades para evitar fugas
Divulgação/Ministério Público de Minas GeraisO Ministério Público de Minas Gerais fechou um centro terapêutico na cidade de João Pinheiro, no noroeste do Estado, após constatar que os pacientes eram torturados e mantidos em cárcere privado no local. De acordo com o promotor de Justiça responsável pelo caso, Luís Gustavo Patuzzi Bortoncello, o proprietário do estabelecimento, Wolney Braga de Lima, teve a prisão preventiva decretada e é considerado foragido. A Polícia Civil, por meio do delegado Anderson Rosa da Silva, conduz diligências à procura do suspeito.
O inquérito foi instaurado pelo MPMG no final do ano passado, depois que um ex-interno fez a denúncia. Foi montada uma operação em parceria com as polícias Civil e Militar para cumprimento de mandado de busca e apreensão no dia 27 de março deste ano. O cenário que encontrou na clínica chocou o promotor, que classifica o local como um "depósito medieval de seres humanos".
— Eles [pacientes] eram mantidos lá contra a vontade, sofriam tortura, não tinham qualquer tipo de acompanhamento médico e as visitas eram proibidas. Havia muros altos e cercas elétricas, além de grades em qualquer abertura. Aqueles que questionavam os métodos dessa falsa clínica, sofriam descargas elétricas com uma máquina artesanal de choque.
Ainda conforme Bortoncello, adolescentes, adultos e idosos conviviam em um espaço "insalubre e promíscuo". O interno mais novo tinha apenas oito anos e relatou que foi "apagado com remédios". Uma das técnicas utilizadas pelos monitores para controlar os pacientes era a utilização de calmantes pesados, que deixavam a pessoa inerte por até dois dias.
Além disso, os administradores ainda retinham os documentos das vítimas e seus cartões de crédito com senhas, se apropriando do dinheiro sob a alegação de que era para o custeio da manutenção do centro, que tentava manter uma "aparência de legalidade" para o público externo.
— Dentre os cerca de 30 internos, somente dois tinham ordem judicial de internação, mas, mesmo assim, nenhum havia passado por avaliação psiquiátrica. As famílias eram desconhecedoras do que acontecia lá e mesmo as prefeituras de cidades da região encaminhavam internos para o local e auxiliavam financeiramente este estabelecimento.
O local era gerenciado por Lima, a mulher, Adriana Alves Franco Braga e o filho do casal, que está detido com outros dois monitores no presídio de João Pinheiro. A prisão de Adriana já foi solicitada pelo delegado, que aguarda resposta da Justiça. O magistrado ressalta que falsas clínicas como estas são comuns na região e reforça que a internação só é determinada como último recurso.
— Só existe duas formas de uma pessoa se internar: é por vontade própria ou por determinação judicial, e, em qualquer hipótese tem que ser precedida de avaliação psiquiatrica. Ainda assim, isso só deve acontecer em última hipótese, já que o tratamento ambulatorial é a primeira opção.