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Cabeça raspada ou o cabelo baixinho, na régua. Por muitos anos essas opções pareciam ser as únicas possibilidades de estilo para os homens de cabelo crespo ou cacheado. Ou, pelo menos, era o que o padrão de beleza ditava como regra. Isso começou a mudar e, acompanhando o movimento de mulheres que passaram pela transição capilar, os homens também começaram a aceitar os seus cabelos. O resultado não poderia ser diferente: uma onda de autoaceitação. Conheça algumas histórias e se inspire!
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“Penteado de preto é cabeça raspada”, foi o que o jornalista Vinícius Vieira, de 31 anos, ouviu quando decidiu que deixaria o cabelo crescer. O ano era 2004 e, diferentemente de hoje, não havia tanta informação sobre os cuidados para manter o visual. Mesmo com as críticas dos amigos, Vinicíus tentou continuar com o cabelo natural, mas acabou desistindo. Só dez anos depois viu que o black power era o que queria para a vida. “Eu sempre me achei uma criança feia. Hoje me vejo no espelho e sinto que é um imenso grito de liberdade, me acho bonito e tenho orgulho”, afirma
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Quem vê a pose de modelo do Anderson Scarpinatti, de 23 anos, nem imagina que por muito tempo ele adotou o cabelo curto como visual. Tudo mudou em 2016 quando conheceu a namorada que passava pela transição capilar e o incentivou a deixar os cachos crescerem. “Não tinha a mínima ideia de como cuidar do cabelo e ela foi me ensinando tudo”, lembra. Depois de se aceitar e ver o black tomar forma, Anderson teve de lidar com as piadinhas e os olhares na rua. “Ouvia coisas como ‘agora dá para roubar um celular e esconder no cabelo’ e que eu estava feio”, conta
Transição capilar: sem chapinha, elas encontraram o amor próprioReprodução/Facebook
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Ainda adolescente, Wellington Lopes ouviu que “homens e mulheres negras eram ensinados a terem medo do próprio cabelo, a fugirem de si mesmos”. Nessa época, o educador popular já havia alisado os fios e decidiu que queria ver como o cabelo era de verdade. “Foi o momento mais importante da minha vida”, afirma. O jovem chegou a buscar referências de outros homens, mas não encontrou. “Então percebi que me aceitar como homem negro significaria representar o que outros jovens negros pedem ser”, conta. Hoje, aos 22 anos, ele já usou até o estilo dreadlocks como visual
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O estudante Felipe Tavares tem 25 anos e é a primeira vez que conhece a textura do seu cabelo. Parece difícil acreditar, mas o jovem nunca tinha deixado os fios crescerem o suficiente para formarem um cacho. “Essa decisão foi mais um passo da minha aceitação como negro”, afirma. Felipe conta que durante esse tempo até pensou em assumir o black algumas vezes, mas era desencorajado. “Sempre que crescia um pouco já vinham as piadas de ‘microfone’, ‘cotonete’, ‘parece um mendigo’”, lembra o estudante
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O estudante Matheus Roberto, de 20 anos, decidiu ainda na adolescência que queria assumir o crespo para o mundo. “Quando você aceita seu cabelo e quem realmente é, se impõe na sociedade e isso é gratificante”, afirma. O jovem não tem medo de ousar nos penteados, já usou as tranças nagô e costuma texturizar o seu black power
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Faz três anos que Antonio Souza, de 25, vê seu black power ganhar cada vez mais forma e volume. “Consegui ver algo belo em mim”, afirma. O jornalista conta que durante toda a adolescência permaneceu com o cabelo raspado e, mesmo assim, não conseguiu fugir dos comentários maldosos durante a fase escolar. “Assumir como eu sou, como meu cabelo é de fato, é algo que, racialmente, foi muito importante”, afirma. Para ele, usar o cabelo dessa forma é uma maneira de provar que “o negro também é bonito e estiloso”
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Aos 22 anos, Luiz Paulo visitava um festival de cultura negra pela primeira vez. Era o empurrão que faltava para o estudante deixar o cabelo crescer. “Desde novo quis ter cabelo grande, porém minha família sempre me brecava em relação a isso”, lembra. Mesmo depois de ouvir que o cabelo era feio e duro, Luiz manteve a decisão e hoje exibe um visual para lá de estiloso. “Muita coisa mudou pra mim desde então, me sinto mais forte e me aceito do jeito que sou”, afirma
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“Foi um choque de autoconhecimento, me encontrei como nem imaginava ser possível”, é o que Ricardo Veras, de 25 anos, afirma. A curiosidade de saber como era o cabelo acabou conduzindo o jovem a um destino conhecido das mulheres cacheadas: o alisamento. Depois da progressiva, Veras se deu conta de que aquela ainda não era a sua identidade e resolveu deixar o cabelo crescer como realmente é. “Meu cabelo teve total responsabilidade pelos graus de racismos que sofri, tal como a maior alegria de poder me identificar como homem negro”, completa
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Clauber Nascimento, de 26 anos, foi mais um dos que recorreram ao alisamento quando decidiu que queria ver o cabelo crescer. O resultado foi uma sensação de não-pertencimento que acabou em uma transição capilar. “Comecei a enxergar quem realmente eu sou”, afirma. Quando os fios começaram a ganhar forma, o estigma de “cabelo ruim” logo deu as caras e Clauber passou a vivenciar uma pressão estética em seu trabalho. “Certa vez um funcionário disse que levaria uma tesoura de jardineiro, outro dia ele jogou uma nota de R$ 5 na minha mesa e disse que era pra eu raspar o cabelo”, conta
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Leonardo Rebello tem 22 anos e até 2016 nunca tinha deixado o cabelo crescer mais do que três centímetros. A careca era marca registrada e o diretor de arte não se via de outra forma. Até que um dia decidiu que queria seus cachos e tudo mudou. “Adquiri a coragem de me ver como sou”, conta. A discriminação no mercado de trabalho se fez presente e Leonardo chegou a ouvir que, com aquele cabelo, era mais fácil pegar piolho e que parecia uma vassoura de piaçava. Mas, longe de pensar em desistir do black, o jovem segue com o visual
Por trás da "boa aparência": o racismo em números no mercadoReprodução/Facebook