Óbitos em casa não consta na taxa de mortalidade oficial da covid-19 na França
Cristophe Petit Tesson / EFE - EPA - 17.04.2020Em abril, um morador idoso de Seine-Saint-Denis, comuna mais pobre da França nos arredores de Paris, foi ao hospital com receio de estar com a covid-19. O exame deu negativo e o aposentado foi mandado para casa. Dez dias depois ele foi encontrado morto.
Por ora, a morte não consta da taxa de mortalidade oficial da doença no país, que só inclui as pessoas que morrem em hospitais e casas de repouso.
Mas dados do escritório de estatísticas INSEE mostram um aumento nacional de falecimentos em casa. O crescimento é particularmente pronunciado em alguns dos subúrbios de baixa renda nos arredores do centro de Paris.
"Está claro que a covid-19 está matando muito mais gente em casa", disse um agente de saúde a par da morte do aposentado, "porque eles não sabiam que a tinham ou tinham muito receio de pedir ajuda a outros".
O novo coronavírus já matou mais de 25.500 pessoas na França, a quinta maior taxa de mortalidade, vindo atrás das de Estados Unidos, Reino Unido, Itália e Espanha.
O governo planeja acrescentar as mortes domiciliares em junho. Quantas é difícil projetar, já que as autoridades de saúde não estão realizando exames de detecção do vírus em pessoas que morrem em casa.
Dados do INSEE mostram que 109.327 pessoas morreram na França durante o período de 1º de março a 20 de abril, um aumento de 26% e 15% em relação aos períodos correspondentes de 2019 e 2018. As mortes conhecidas de covid-19 que foram relatadas representam, portanto, 19% do total de mortes.
Os dados apontam que os óbitos ocorridos em casa durante este período saltaram para 28% em relação a 2019 e chegaram a 26.324
Jacques Battistoni, presidente da União Nacional Geral de Clínicos da França, disse à Reuters que sua organização estimou que ao menos 9 mil pessoas morreram de covid-19 em casa, cifra baseada no fato de um de cada seis dos 55 mil clínicos-gerais do país ter relatado ao menos uma morte possível da doença.
"As pessoas têm tido medo de procurar médicos ou de perturbá-los, e os sintomas às vezes são benignos", disse Battistoni.
Estatísticas oficiais indicam que o aumento das taxas de mortalidade durante o surto de coronavírus tem sido acentuadamente maior em alguns dos distritos de renda mais baixa na periferia do anel rodoviário que envolve Paris.
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