Soares e Shanasis fizeram permutas para realizar a festa de casamento
Arquivo pessoalQuando o pintor Luis Antonio Soares, 50 anos, pediu a mão de sua noiva, Shanasis Souza Soares, 40, em casamento, logo começou a fazer as contas para saber quanto teria de gastar para pagar a tão sonhada festa.
Viu que teria de desembolsar mais dinheiro do que tinha nas suas economias, ou conseguiria juntar com facilidade, sem afetar o orçamento doméstico.
Teve, então, a ideia de oferecer os seus serviços de pintura em troca de itens para a festa de casamento, realizada apenas no civil.
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Negociou o bufê do jantar para 40 pessoas – somente para padrinhos e familiares mais próximos –, vestido da noiva, alianças, bolo, lembrancinhas e docinhos com empresas e profissionais cadastrados na XporY.com.
A empresa é uma plataforma digital de permutas multilaterais, que reúne fornecedores e consumidores que desejam trocar serviços e produtos.
Toda a festa foi avaliada em 15 mil X$, moeda digital criada pela empresa para remunerar as trocas. Cada X$ equivale a R$ 1.
Quem compra paga o valor em X$ e uma taxa de administração de 10% em reais para a XporY.com.
Os créditos só podem ser usados na troca de produtos ou serviço de empresas ou profissionais cadastrados. Atualmente são 8.000 associados.
Soares e Shanasis casaram-se há 10 meses e estão muito felizes por conseguirem realizar o sonho sem qualquer gasto.
“Sem as permutas, nós jamais teríamos conseguido fazer a festa e celebrar a data como desejávamos”, diz Soares.
A empresária goiana Júlia Pittelkow, 32, é dona da FBI Kids. Começou a fazer permutas para trocar peças da sua loja por outros produtos e serviços. Com isso, conseguiu desovar o volume muito alto de estoque em 10 dias.
Júlia conseguiu reduzir o estoque a abrir outro negócio de permutas em um ano
Arquivo pessoalCom as permutas, Júlia afirma que conseguiu contratar serviço de contador, assessoria jurídica e equipe de marketing para divulgar seus produtos e serviços e cuidar da gestão das redes sociais.
Gostou tanto do resultado que resolveu iniciar outro negócio dentro da plataforma: oferecer pacotes de viagem.
Em pouco mais de um ano, ela acumulou R$ 200 mil (200 mil X$ se considerarmos a moeda digital da plataforma) e conseguiu construir a sua loja física da FBI Kids.
Até então, a marca atuava exclusivamente pela internet.
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Antes de abrir a loja física, Júlia também negociou a mensalidade dos seus três filhos com o dinheiro acumulado em permutas. Com R$ 31 mil (31 mil X$), garantiu o pagamento de um ano e meio de escola dos três.
“Perguntei para a diretora se ela gostaria de receber o valor das mensalidades das crianças antecipado. Ela quis saber como eu faria isso e falei sobre a plataforma. Ela ficou animada com a sugestão e cadastrou a escola no serviço de permutas”, comenta Júlia.
Com o dinheiro transferido para a conta da escola, a diretora aumentou seu investimento e marketing comprando 30 pontos de outdoor.
“Resumindo, eu tive uma economia de R$ 37 mil, que seria o valor das mensalidades sem a antecipação, e a escola conseguiu dar visibilidade para o seu negócio e captar mais alunos”, conta a empresária.
Atualmente 8.000 usuários, entre empresas e pessoas físicas, estão cadastrados na XporY.com, segundo Rafael Barbosa, CEO da plataforma digital de permutas multilaterais.
Barbosa espera abrir um escritório por mês
DivulgaçãoAs negociações vão desde doces comercializados por uma doceira autônoma a apartamento e terrenos ofertados por uma construtora.
A ideia de criar a plataforma surgiu em uma viagem que Barbosa fez aos Estados Unidos.
“Fui atrás de oportunidades de negócio, conheci esse trabalho que já é bem desenvolvido nos EUA, e resolvi trazer o serviço para o Brasil”, diz.
As operações da XporY.com estão concentradas basicamente em Goiânia (GO), onde é a sede da empresa. A plataforma digital inaugurou neste mês um escritório em São Paulo, para intensificar as negociações também no estado.
A meta da empresa é abrir uma unidade por mês em cada cidade, a partir de agora.
“Mesmo com as operações intensificadas apenas em Goiás e São Paulo, qualquer pessoa de qualquer estado pode se cadastrar no site e iniciar as negociações. São esses cadastros que vão nos orientar na abertura das próximas unidades. ”
Para Edson Carli, CEO da consultoria de gestão de talentos GDT Brasil e criador do site Eu2B, a troca de produtos e serviços por meio de permutas é o negócio do futuro.
Para Carli, permutas são vantajosas para profissionais que ganham por hora
Douglas Lucenna/DivulgaçãoTambém vem fortalecer a atuação dos MEIs (microempreendedores individuais) que nem sempre dispõe de recursos para arcar com gastos fixos.
“Eu mesmo me interessaria em trocar minhas palestras por serviços fixos”, diz.
O especialista ressalta que o negócio é vantajoso, principalmente para pessoas que são remuneradas por hora, caso de contador e professor, por exemplo.
“O mais interessante é que a plataforma leva em consideração que nem todas as horas têm o mesmo preço. Um professor que dá aula de reforço de geografia pode trocar essas horas por um serviço de diarista, pintor, encanador, manutenção de jardim, entre outros. Vale sim muito a pena esse tipo de troca”, comenta Carli.
Carli destaca, no entanto, que é preciso ter um controle muito rigoroso sobre a qualidade dos serviços ou produtos oferecidos.
“Ainda bem que a história do pintor teve um final feliz, mas ele poderia ter contratado o serviço de fornecedores que não entregariam o que prometeram. Foi um grande risco e poderia comprometer um sonho, já que não daria mais para convidar todo mundo de novo para a festa nem voltar atrás.”
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O especialista sugere a criação de um histórico de realização da pessoa e a criação de um ranking de qualidade para facilitar a decisão da escolha do fornecedor.
Outro aspecto levantado por Carli é a relação de consumo. Quem culpar caso a operação não dê certo?
“O site não é culpado por estar somente apresentando as duas partes, e não houve uma transação formal de compra e venda de um produto ou serviço, mas apenas troca. Isso foge do respaldo do CDC (Código de Defesa do Consumidor)”, pontua.
Por ser uma economia informal, ou seja, não tem um relacionamento de compra e venda legal, Carli também acredita que em breve algum político deve tentar arrumar um meio de tributar essas transações.
“Não há moeda corrente, mas envolve valores. Certamente vão pensar em uma forma de tributar isso”, finaliza.