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Chega neste sábado (20) ao Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, a mostra "Ex Africa", maior exposição de arte contemporânea africana já realizada no País. Um dos destaques são as fotos do nigeriano J. D. 'Okhai Ojeikere (1930 – 2014), autor de um projeto singular na história da arte. Ao longo da carreira, Ojeikere fez milhares de cliques de cortes de cabelo das mulheres africanas. Em conversa com o R7, o curador da exposição, Alfons Hug, fala da relevância do trabalho do fotógrafo e sua visão da beleza como expressão de arte
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Segundo Alfons Hug, curador da exposição "Ex Africa", as fotografias de Okhai Ojeikere mostram como os penteados podem estar ligados ao ambiente social e político.
— Os retratos registrados pelo artista mostram um reflexo da independência da maioria dos países africanos na década de 1960, que trouxe conquistas no design cotidiano, como, por exemplo, novos cortes de cabelo femininoDivulgação
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R7 — O que os retratos dos cabelos dizem sobre a cultura e a imagem da África?
Alfons Hug — As imagens são um retrato da libertação dos laços coloniais daquele continente. Essa hair revolution [revolução do penteado] constituiu um movimento estético marcante naquele período. A nova técnica “olowu” substituiu as perucas e os cabelos alisados dos tempos coloniais, ajudando a promover uma nova autoestima. Na cabeça de jovens mulheres eram montadas verdadeiras esculturas: arcos e portais de arame, formas pontiagudas, tranças formando curvas elegantes e amplos ninhos de pássarosDivulgação
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R7 — De que forma foi feita a seleção das obras?
Alfons Hug — O fotógrafo nigeriano Okhai Ojeikere (1930–2014) retratou essas obras com cabelo em mais de mil imagens em preto e branco, sóbrias e despretensiosas. As obras selecionadas para esta exposição destacam a criatividade dos penteados de cabelos trançados, que mais fazem lembrar esculturas do que estilos tradicionais de cabelo. São fotografias que certamente abandonam o nível documentarista e ganham status de arte, ou melhor, de cult, graças a sua composição e técnicas de iluminaçãoDivulgação
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R7 — Quantos retratos dele estão na mostra?
Alfons Hug — São oito obras do artista em exposiçãoDivulgação
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R7 — No Brasil, ainda é raro ver esse “orgulho” dos cabelos afro, um movimento que está ganhando força, mas ainda é restrito. De que forma essas imagens podem ajudar a alterar esse cenário?
Alfons Hug — A África e o Brasil têm laços culturais estreitos. Basta lembrar que parte da população de países como Nigéria, Benim, Togo e Gana são descendentes de ex-escravos brasileiros que retornaram ao continente no final do século XIX. Além disso, a exposição acontece num momento em que a herança africana volta a estar em evidência, principalmente no Rio de Janeiro, onde recentes escavações do antigo mercado de escravos no Cais do Valongo, ou a descoberta do Cemitério dos Pretos Novos e da Pedra do Sal, todos localizados no centro histórico da cidade do Rio, e próximos ao CCBBDivulgação
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J.D. ‘Okhai Ojeikere começou como assistente de câmara escura em 1954 no Ministério da Informação em Ibadan. Depois que a Nigéria ganhou sua independência em 1960, Ojeikere conseguiu seu primeiro trabalho como fotógrafo. Em 1961 transformou-se em fotógrafo de estúdio, sob o comando de Steve Rhodes, para a Television House Ibadan
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De 1963 a 1975, Ojeikere trabalhou em publicidade na West Africa Publicity em Lagos. Durante seu tempo na publicidade, especificamente no ano 1967, juntou-se ao Conselho Nigeriano das Artes. Em 1968, começou um de seus maiores projetos no qual ele documentou penteados nigerianos
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A exposição "Ex Africa" ficará em cartaz no CCBB Rio de Janeiro (Rua Primeiro de Março, 66 - Centro) até 26 de março e poderá ser visitada, gratuitamente, de quarta a segunda-feira, entre 9h e 21h
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