A indústria, o desmatamento e a agricultura são os maiores responsáveis pelo efeito estufa
Getty ImagesCerca de 150 chefes de Estado e de governo deram início nesta segunda-feira (30), em Paris, ao maior encontro diplomático da história: a COP-21, também chamada de “cúpula do clima”.
O objetivo é chegar a um acordo global para reduzir a emissão de dióxido de carbono (CO²) na atmosfera e limitar o aumento da temperatura do planeta a 2°C até 2100.
Segurar a temperatura é crucial porque o aquecimento global está levando ao derretimento das geleiras, à elevação do nível do mar e à desertificação de territórios.
Os cientistas consideram que é necessário fazer com que o aquecimento global se limite a 2°C (em relação à era pré-industrial 1850-1900), até o fim do século, para que as mudanças climáticas fiquem em um nível relativamente seguro. No entanto, relatório da ONU aponta que o mundo caminha para um aquecimento global de 3°C até o 2100.
Legado de Kyoto
Apesar da gravidade do problema, chegar a um acordo não é fácil. A última vez que os países concordaram em assinar um documento global de compromissos climáticos foi em 1997, durante da 3ª Conferência do Clima, realizada em Kyoto, no Japão.
O famoso Protocolo de Kyoto, no entanto, foi boicotado inicialmente por nações como China, EUA (ambos responsáveis por 45% das emissões globais atualmente) e Rússia.
Washington chegou a assinar o tratado, mas nunca o ratificou, alegando que o corte nas emissões afetaria suas finanças. A China o ratificou em 2002, mas reluta em adotar medidas drásticas, também por razões econômicas.
Esse acordo só foi implementado em 2005 após a ratificação da Rússia. Mas apesar de ser o único dispositivo que trate da redução do efeito estuda, o protocolo de Kyoto é apontado como falho porque não obriga os países a cumprirem com aquilo que assinaram. Além do mais, o acordo só vai até 2020.
Por isso a ideia, desta vez, é chegar a um acordo vinculante, ou seja, que tenha força de lei e que estabeleça punições aos países poluidores. Ele passaria a valer a partir de 2021.
A principal autoridade da ONU sobre mudanças climáticas, Christiana Figueres, já afirmou que acordo em discussão terá caráter obrigatório. "Claro. Será um acordo legalmente vinculante", disse.
Acordo climático definido em Paris passará a valer a partir de 1° de janeiro de 2021
Arte R7Obstáculos de sempre
Os governos do mundo já se comprometeram a reduzir atividades como a queima de combustíveis fósseis, que libera os gases. Mas isso não resolve o problema.
A dificuldade surge quando se tenta conseguir um denominador comum que agrade a todos os 195 países sobre a melhor forma de ação para conter o aquecimento global.
Há grandes divisões entre os países sobre como vão conseguir isto. Países em desenvolvimento dizem que querem o direito de usar combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás, para ajudar suas populações a saírem da pobreza.
O argumento é que os países ricos usaram estes combustíveis sem restrições por 200 anos e agora é a vez dos outros países.
O acordo de Paris precisa encontrar uma forma de equilibrar a necessidade de cortar estes gases com o direito dos outros países de usar os combustíveis fósseis.
E também há a questão de quem paga pela transição ao uso de energias renováveis (como energia solar e eólica) nos países que não podem pagar por elas. E quem vai pagar para ajudar países pobres a se adaptarem à elevação dos níveis dos oceanos e às ondas de calor e períodos de seca cada vez mais intensos.
O financiamento da mudança de matriz energética e das medidas de adaptação é uma das questões mais sensíveis da COP-21.
De Figueres a outros chefes de Estado, como o sul-africano Jacob Zuma, a pressão recai sobre os países ricos, que prometeram aumentar o financiamento climático para países em desenvolvimento para US$ 100 bilhões por ano em 2020.
"Se as nações desenvolvidas falharem em desempenhar seu papel, uma impressão será criada de que a crise climática foi causada por poucas nações privilegiadas que não são simpáticas sobre seus impactos sobre a maioria", declarou Zuma.
Para a chefe de clima da ONU, "esse ponto está muito claro. Os US$ 100 bilhões precisam vir de países desenvolvidos ou da iniciativa privada”.
Nesse sentido, o acordo respeitaria o princípio das "responsabilidades comuns, mas diferenciadas", um dos parâmetros das negociações climáticas.
Os líderes da França, Alemanha, Chile, México, Etiópia e Canadá, além do chefe do Banco Mundial, querem ainda que seja instituído algum tipo de mecanismo que, essencialmente, cobre um preço por cada tonelada de dióxido de carbono lançado pela indústria. Poderia ser um imposto simples ou um sistema de comércio de créditos de carbono mais complexo, declararam.
"Nós simplesmente não podemos nos dar ao luxo de continuar poluindo o planeta no ritmo atual", disse o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim.
Discursos e promessas
Nesta segunda-feira, logo no início da COP-21, o presidente americano Barack Obama surpreendeu em seu discurso assumindo a responsabilidade de seu país com o efeito estufa.
— Como uma das primeiras economias do mundo, eu estou absolutamente consciente que nós somos uma fonte do problema.
Obama lembrou os compromissos firmados pelos Estados Unidos para reduzir entre 25% e 28% as emissões do país até 2025 em relação a 2005. Ele disse ainda que a COP-21 é um "momento de virada" para salvar o planeta.
— Nenhuma nação, pequena ou grande, rica ou pobre, está imune. Nós somos a primeira geração a ter detonado o aquecimento climático, mas nós talvez sejamos a última a poder fazer algo para evitá-la.
Minutos depois, o presidente da China, Xi Jinping, pediu um "acordo global, equilibrado e aprofundado contra as mudanças climáticas".
O chefe de Estado chinês exortou as nações mais ricas a cumprirem seu engajamento de mobilizar US$ 100 bilhões para auxiliar países mais pobres, além de transferir tecnologias que possam ajudar contra os efeitos do aquecimento global.
— O princípio das responsabilidades comuns, mais diferenciadas, deve ser respeitado.
Maiores poluidores do globo, China e EUA selaram um acordo climático histórico no ano passado. Mas sua implementação vai depender de Paris.
A COP-21 vai durar mais duas semanas, quando se espera que os ministros do meio ambiente de todos os países assinem o aguardado acordo global.
Seis pontos polêmicos do discurso de Dilma em Paris
Conheça o R7 Play e assista a todos os programas da Record na íntegra!
GALERIA: aquecimento pode deixar Rio e outras cidades debaixo d'água