À esquerda, Angela Abar (Regina King), uma das protagonistas da série
DivulgaçãoWatchmen e Game of Thrones não têm nada a ver na temática. Uma é fantasia medieval e a outra é uma ficção realista que acontece nos dias atuais, mas elas têm em comum a mesma capacidade de gerar discussão e de colocar o povo para acompanhá-las de forma ferrenha. E a nova série da HBO, que estrou na noite desse domingo (20), mesmo horário de GOT, chega cheia de vontade de cativar a audiência e fazer com que a gente veja tudo sem tirar os olhos, assim como aconteceia com Daenerys e cia. Aliás, o que ambas têm em comum é a criação de um universo intrincado, realista e cheio de detalhes.
Para começo de conversa, Watchmen, a série criada por Damon Lindelof (o mesmo de Lost), é inspirada no quadrinho clássico dos anos 80, de Alan Moore e Dave Gibbons, lançada pela DC Comics e que mudou completamente a ideia e o conceito que se tinha de HQs até então. Densa, adulta e séria, Watchmen mostrava uma realidade em que os Estados Unidos venceram a guerra do Vietnã e Nixon permaneceu como presidente durante muitos anos. Nessa realidade, os vigilantes são proibidos de atuar e tiveram de se registrar no governo para continuar existindo. Muitos desistiram de lutar contra o crime nessas condições. É nesse cenário, que acontece nos anos 80 também nos quadrinhos, que surge o Dr. Manhattan, único ser com superpoderes desta realidade. A história começa quando um dos vigilantes do passado, Edward Blake, conhecido como O Comediante, é morto. Rorschach, um fantasiado fora da lei, passa a investigar tudo e assim avançamos nesse universo complexo da HQ que envolve Guerra Fria, totalitarismo e atitudes megalomaníacas.
Policiais em Watchmen usam máscaras
DivulgaçãoBem, tudo isso aí acima serve para dizer que a série de TV de Watchmen é uma continuação dos quadrinhos, mas que se passa nos dias de hoje e com novos personagens. Ou seja, é o mesmo universo do gibi, mas se passaram mais de 30 anos dos eventos originais e o mundo se desenvolveu. Agora, na TV, vemos uma realidade um tanto quanto opressiva, onde supremacistas brancos inspirados e com a máscara de Rorschach surgem como ameaça racial e também caçam policiais. Os policiais, por sua vez, trabalham com máscaras, para evitar serem reconhecidos e mortos. Não existe internet, carros são elétricos e há chuvas de lula a qualquer momento do dia. Há muitas referências à minissérie clássica – como a chuva de lula, por exemplo – e a presença de Adrian Veidt (Jeremy Irons), mas isso não quer dizer que você tenha de ter lido a HQ para acompanhar a série. Mas se leu, vai curtir mais, claro.
Assim como aconteceu com os quadrinhos nos anos 80, o seriado de Lindelof radicaliza a realidade em que vivemos. Lá no passado, Alan Moore potencializava a realidade da Era Regan e Margaret Thatcher. Agora, vemos uma radicalização desta Era Trump e suas questões raciais, migratórias etc. Os personagens da série não vivem num mundo muito bom, como se pode imaginar. Há muita tensão no ar, questões raciais complicadas, violência policial e isso deixa um clima de paranoia no ar. Tudo isso convida o público a se aprofundar na história e descobrir o que mais virá pela frente. Certamente teremos surpresas bem fortes a caminho. Uma aparição do Dr. Manhattan não parece ser impossível. Por que não?
Racistas usam a máscara de Rorschach
DivulgaçãoWatchmen nasce promissora. Lindelof e sua equipe souberam traduzir para a TV o mundo criado por Alan Moore e, assim, expande e dá vida a um universo de possibilidades. Isso faz com que a série seja muito diferente do longa-metragem dirigido por Zack Snyder em 2008, que se limitou a praticamente traspor a HQ para a telona. Esta primeira temporada tem nove episódios que contarão uma história fechada. Não se sabe ainda se o seriado vai continuar depois disso e tudo dependerá da resposta dos fãs e do público em geral. Mas, sem dúvida, há muitas camadas para serem desvendadas nesse Watchmen televisivo. Assim como aconteceu com a HQ, a série pode virar também um marco recente da TV.
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