Jovem pede alta na clínica em que fazia tratamento
ReproduçãoApós ficar internado por um ano e quatro meses em uma clínica de reabilitação, o jovem de 18 anos, que teve a testa tatuada à força em junho de 2017, recebeu alta médica na quarta-feira (10). A autorização para a saída do adolescente, segundo a psicóloga que o acompanhou nesse período, ocorreu dias depois de ele ter apresentado oscilações de comportamento e ter trocado por drogas o celular que ganhou de presente da equipe.
A psicóloga da clínica Marcela Abraão da Silveira explica que se trata de uma alta pedida pelo paciente, uma vez que ele possui 18 anos e fazia o tratamento de forma voluntária. Com isso, explica ela, ele pode se desligar da clínica a qualquer momento.
A venda do celular ocorreu no dia 3 de outubro. "Ele se evadiu para a comunidade, não comunicou ninguém. A recaída faz parte da doença", afirma. Marcela diz que ele costumava sair da clínica acompanhado de algum membro da equipe. Segundo ela, nos últimos dias, ele já havia apresentado oscilações de comportamento.
"Demos a liberdade de escolha a ele. Chega um momento em que o profissional se torna impotente. Todas as orientações e o suporte foi dado", diz Marcela. Ele fazia tratamento na unidade da clínica localizada em Extrema, em Minas Gerais. "Ele não estava mais aderindo ao tratamento", diz a psicóloga.
Em conversa com o garoto, Marcela afirma que, depois do episódio envolvendo o celular, sugeriu ao jovem que "talvez não fosse o momento certo para deixar o tratamento", mas, segundo a psicóloga, ele estava na clínica voluntariamente. "Ele me disse que quer voltar a estudar, chegou a falar que quer retomar as atividades e procurar um trabalho."
Apesar do adolescente ter recebido alta, o processo de remoção da tatuagem na testa não será interrompido. De acordo com a psicóloga, na quarta-feira (10) foi realizado o último atendimento a ele antes de deixar a clínica. Na conversa, ele teria dito à psicóloga que estava animado e com boas expectativas. "Ele disse que iria colocar em prática tudo o que havia aprendido", diz ela.
Tratamento
A psicóloga afirma que o jovem contava com encontros semanais. Além dele, a mãe do adolescente, Vânia Aparecida Rosa da Rocha, também chegou a ser atendida pelos profissionais. "Ele chegou aqui muito traumatizado, desprovido de tudo, pesando 40 quilos e ainda tinha a tatuagem feita de forma totalmente agressiva", diz Marcela.
Segundo ela, o jovem apresentava comportamentos típicos de usuários de drogas. "Para ele, foi muito chocante tudo o que aconteceu", diz ela. Todos os pacientes passam, explica a psicóloga, por um processo de desintoxicação. Nesse momento, é muito comum que apresentem comportamentos consequentes da crise de abstonência.
À medida que que a conclusão do tratamento se aproxima, como era o caso do adolescente, a equipe passa a trabalhar o processo de reinserção da pessoa à sociedade. "O pedido de alta foi feito por ele e a mãe, comunicada", diz a profissional.
De acordo com Marcela, o garoto tem planos de viver com a mãe. A reportagem do R7 tentou entrar em contato com Vânia, mas não obteve retorno até o momento da publicação.
O caso
O adolescente foi acusado de tentar roubar uma bicicleta em uma pensão em São Bernardo em junho de 2017. Segundo o advogado Ariel de Castro Alves, que acompanhou o jovem desde o início das acusações, ele afirma que, sob efeito de drogas e álcool, teria mexido na bicicleta.
Com isso, os dois homens acusados de o torturar teriam amarrado o jovem e tatuado os dizeres “Eu sou ladrão e vacilão” em sua testa. Além disso, teriam também cortado o cabelo e obrigado o rapaz a gravar um vídeo confessando o crime.
A mãe do garoto afirma que o ato chocou o filho. “Teria sido mais digno se os rapazes tivessem chamado uma viatura de polícia e não torturado meu filho”, diz. “Isso mexeu com a cabeça e com o psicológico dele.”