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Estúdio|Mariana SoaresOpens in new window

Nunca imaginei que um dia voltaria para minha terra natal, não apenas como jornalista gaúcha, mas como testemunha de uma das maiores tragédias climáticas do país. Sou nascida e criada em Porto Alegre. Mais especificamente no bairro Sarandi, zona norte da capital. Em maio de 2024, vi meu Estado ser engolido pela água. As ruas viraram rios, as cidades sumiram sob a lama e um povo inteiro tentando, de alguma forma, resistir. Minha família foi afetada, meus amigos de infância perderam suas casas e milhares de gaúchos viram seus lares e suas vidas inundadas.

A enchente começou como uma previsão no jornal, como tantas outras. Chuva intensa, alerta de deslizamento. Mas os dias passaram e a água não parava de cair. Quando a situação começou a ficar mais crítica, percebi que não era mais apenas uma pauta: era um chamado. Me coloquei à disposição para auxiliar na cobertura. Em um voo humanitário, com um avião cedido por uma companhia aérea para profissionais que estavam indo para o Rio Grande do Sul prestar auxílio, sem saber se eu conseguiria embarcar, embarquei com o repórter Guilherme Mendes e o cinegrafista Danilo Kauffmann para fazer aquela cobertura.


Depois do portão de embarque, fiquei a hora e meia seguinte, dentro do avião, imaginando o que encontraria ao pousar. No primeiro dia de trabalho, retornei ao bairro Sarandi e não acreditei no que vi e vivi: circulamos pelas ruas de barco. Em alguns pontos, a água chegava a cinco metros de altura. Passei em frente à casa do meu padrinho e consegui identificar apenas pelo telhado, já que a casa inteira estava inundada.

Passamos 16 dias cobrindo a enchente para o Jornal da Record, em maio de 2024. Assim que retornamos, já fui designada para uma nova missão: produzir um documentário sobre a reconstrução do Estado. Mostrar histórias de pessoas que perderam casas e, pior, familiares.


MISSÃO DOCUMENTÁRIO

Em junho de 2024 comecei a assistir a todas as reportagens que foram ao ar durante mais de um mês de cobertura. Selecionei entrevistados que tiveram suas vidas atingidas, de formas diferentes, pela enchente. Alguns tinham perdido seus negócios, a fonte de renda da família. Outros perderam suas casas e em casos extremos, perderam familiares. Fizemos algumas reuniões para, enfim, escolhermos aqueles que iriam mostrar como seria o recomeço. Em julho, embarcamos para as primeiras gravações do documentário, começando pelo Vale do Taquari, região mais afetada pelas águas de maio. Viajamos por outros cantos do Rio Grande e até para Florianópolis, onde um dos nossos entrevistados resolveu reconstruir a vida do zero.

Ao longo de quase um ano, nossas equipes viajaram ao Rio Grande do Sul seis vezes. Percorremos milhares de quilômetros entre RS e SC, passando pelas capitais - Porto Alegre e Florianópolis e cidades na região metropolitana e interior gaúcho. Ao todo, mostramos histórias em 7 cidades e conversamos com mais de 30 pessoas, entre vítimas da tragédia, especialistas e governantes. Cada retorno para gravar com as famílias era uma expectativa diferente. Será que tinham conseguido sair do abrigo? Será que foram aprovados no aluguel social? Será que os filhos retornaram para a escola? Será que encontraram um novo emprego? E caso a caso, a vida foi andando. Na velocidade que tinha que ser. Conseguindo realizar alguns desejos e na espera de outros.


A Reconstrução: locais visitados pela equipe Mapa dos locais visitados pela equipe do documentário "A Reconstrução" Arte Record

Presenciamos o aniversário de um ano de Ágatha. A irmã gêmea dela, Agnes, morreu ao cair na água no momento em que a família era resgatada. Vimos a entrega de um terreno e uma casa para a família da Dona Maria de Fátima, que morou oito meses em abrigo. Mostramos a virada de chave do Sandro, que auxiliou centenas de famílias com um barco emprestado. Ele perdeu a casa, a empresa que lavava carros e decidiu recomeçar a vida longe dali: em Florianópolis.

Uma frase muito comum na nossa tradição: “Não está morto quem peleia”. Expressão que indica persistência mesmo diante de dificuldades. E esta frase nunca foi tão significativa diante da calamidade enfrentada pelo Rio Grande do Sul.

E se alguém me perguntar o que aprendi nesse processo, eu diria: aprendi que, mesmo diante da destruição, há sempre uma faísca de humanidade que insiste em brilhar. Encerro essa jornada jornalística e pessoa com ainda mais orgulho de ser gaúcha.

Eu cheguei ao Rio Grande do Sul no primeiro voo humanitário autorizado a pousar na Base Aérea de Canoas. Era um dos piores momento da tragédia. E a impressão que tive foi a pior possível. Ruas e avenidas tomadas pela água, casas completamente alagadas, bairros desertos. Depois, durante a produção do documentário, foi incrível retornar à capital gaúcha e ver gente, carros e ônibus trafegando pelas ruas, ouvir o barulho dos passos, das buzinas, das portas batendo, dos vendedores negociando e dos feirantes disputando os clientes no grito.

Guilherme Mendes, repórter

Essas são algumas das histórias que, juntamente com uma equipe formada também pelos repórteres que estiveram na cobertura jornalística das chuvas, Jairo Bastos, Guilherme Mendes e Romeu Piccoli, além dos repórteres cinematográficos Gilson Fredy, Leopoldo Moraes e Mário Falcón, contamos no documentário “A RECONSTRUÇÃO”, disponível no PlayPlus.

Na volta ao Rio Grande do Sul eu vi ruas que havia conhecido de dentro de um barco. Isso me impactou. Mas o que mais me chamou a atenção foi conversar com os moradores. Mesmo os que não tinham sido afetados diretamente pela enchente quando falavam daquele período se emocionavam. E eu também.

Romeu Piccoli, repórter

Uma memória muito forte que tenho é de estar ilhado em Teutônia, já que os caminhos que levavam ao interior e a capital, estavam bloqueados. Lembro de ver na tv as notícias e perceber que todo o Estado havia sido atingido. Era início das inundações. Eu consegui entender ali, que, assim como eu e minha equipe, milhares de pessoas estavam em espécies de ilhas que se formaram, com estrada e quedas de barreiras. Aí eu tive a dimensão da tragédia.

Jairo Bastos, repórter

Veja a entrevista dos repórteres Guilherme, Jairo e Romeu na íntegra.

  • Diretora de Conteúdo Digital e Transmídia: Bia Cioffi
  • Diretor Editorial e Projetos Especiais: Thiago Contreira
  • Editora Chefe: Patricia Rodrigues
  • Chefe de Pauta: Rosana Teixeira
  • Editor Executivo: Pedro Veloso
  • Produtora: Mariana Soares
  • Repórter: Romeu Piccoli
  • Repórter: Jairo Bastos
  • Repórter: Guilherme Mendes
  • Repórter Cinematográfico: Gilson Fredy
  • Repórter Cinematográfico: Leopoldo Moraes
  • Repórter Cinematográfico: Mário Falcón
  • Auxiliar: Alexandre Telles
  • Auxiliar: Mário Lima
  • Editora de Texto: Mariana Ferrari
  • Editora de Pós-produção: Larissa Melo
  • Coordenadora de Arte Multiplataforma: Sabrina Cessarovice
  • Arte: Gabriel Marques
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  • Vice-presidente de Jornalismo: Antonio Guerreiro
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