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Record|Por André Tal

A convite do R7 Estúdio, o repórter André Tal compartilhou bastidores da série documental do PlayPlus Vicente Matheus - ‘Haja o que Hajar’. Com três episódios, a produção exclusiva retrata uma das figuras mais emblemáticas do futebol brasileiro, em especial para o Corinthians. O presidente mais marcante da história do clube é lembrado pelas frases divertidas que, até hoje, são lembradas como verdadeiros memes de uma época em que redes sociais não existiam. Confira o relato:

A história é do dia em que o ex-presidente do Corinthians foi apresentado a um grande compositor brasileiro.


- Esse aqui é o Chico Buarque de Holanda.

- Prazer, sou Vicente Matheus de Barcelona.


Quem me contou essa “gafe”, 15 anos atrás, foi o saudoso humorista Ary Toledo. A história perdura até hoje. Ninguém sabe se de fato aconteceu, mas Matheus nunca a desmentiu.

Ary Toledo adorava usar pérolas como essa nos shows que fazia em todo o Brasil. Mas confessou: 80% delas eram folclore e 20% verdade.


Ao ouvir mais de 40 depoimentos de jornalistas, ex-atletas, amigos, parentes e torcedores para produzir um documentário sobre Vicente Matheus, descobrimos que ele gostava muito da fama proporcionada pelas famosas escorregadas no português. Apesar dos erros que cometia por ter estudado pouco desde que desembarcou, ainda criança, no Brasil, todos concordam se tratar de um homem extremamente inteligente.

Ao ouvir mais de 40 depoimentos de jornalistas, ex-atletas, amigos, parentes e torcedores para produzir um documentário sobre Vicente Matheus, descobrimos que ele gostava muito da fama proporcionada pelas famosas escorregadas no português

André Tal

Vicente Matheus é tratado como o maior presidente da história do Corinthians. Um dirigente que não dependia do clube porque já era muito bem-sucedido nos negócios. Mas ele gostava muito do poder, foi presidente do Corinthians por 8 mandatos e também foi vice da esposa, Marlene Matheus, por mais dois anos.

A fama de mão de vaca sempre o acompanhou. Negociar contrato com Matheus era o pesadelo de todos os jogadores. Seu Vicente, como era chamado no clube, jogava duro, nunca aceitava a primeira proposta do jogador. Demorava dias ou até semanas para responder e só depois de conseguir baixar bem a pedida inicial, assinava o acordo.

Negociar contrato com Matheus era o pesadelo de todos os jogadores. Seu Vicente, como era chamado no clube, jogava duro, nunca aceitava a primeira proposta do jogador

André Tal

“Se você queria 50, tinha que pedir 100 para chegar nos 50 que você queria”, contou o ex-meio-campo do Timão, Biro-Biro.

O ex-atacante Romeu Cambalhota lembra que um dia foi pedir aumento porque queria morar numa casa com piscina. Matheus respondeu que ele não devia pensar em luxo e, sim, em ser campeão pelo Corinthians. E complementou: “Romeu, tem que ganhar pouco para gastar pouco”. O artilheiro, nervoso, levantou e saiu da sala, sem conseguir dobrar o presidente.

Casagrande conta a história do ex-jogador Vaguinho, que na hora de renovar contrato pediu para receber luvas. Matheus, então, respondeu: “você não é goleiro, não precisa de luvas, quem precisa de luvas é o Jairo”, em referência ao ex-arqueiro do Timão.

Casagrande conta a história do ex-jogador Vaguinho, que na hora de renovar contrato pediu para receber luvas. Matheus, então, respondeu: ‘você não é goleiro, não precisa de luvas’

“Acho que inventaram a expressão ‘pão duro’ para o Sr. Vicente”, disse o jornalista Juca Kfouri durante as gravações.

E Matheus era assim porque não admitia desperdiçar o dinheiro do clube. O homem controlava tudo o que acontecia no Parque São Jorge. Uma vez reclamou com a funcionária da limpeza quando viu que ela deu nó no lixo na metade do limite do saco.

Outra vez, reclamou do cardápio sugerido pela nutricionista na concentração do time, o que aumentava a fatura do hotel. Pediu que fizessem uma laranjada para todos e limitassem em 2 a 3 ovos por dia para cada jogador.

Conta o jornalista Chico Lang que depois da conquista do título brasileiro de 1990, o primeiro na história do clube, jogadores e comissão técnica estavam ansiosos para saber onde seria festa. E o cartola resolveu pedir apenas umas pizzas e nem cerveja mandou servir.

Vicente Matheus costumava dizer que teve uma “infantilidade” difícil, lembrando os desafios da infância. Ele nasceu em Toro, na Espanha, em 1908, dois anos antes da fundação do Corinthians, sua grande paixão. Filho de Luiz e Manglória, viu os pais imigrarem para o Brasil, primeiro sem ele e os irmãos. Vicente desembarcou em Santos, ao lado do tio, quando tinha 9 anos de idade. A família era humilde, tinha dificuldade para comprar comida e roupa. Envergonhado e triste, ele ouvia da mãe que quando ficasse adulto só usaria camisa de seda. E, de fato, depois de ficar muito rico, só usava camisa de seda.

A sorte da família começou a mudar quando o pai arrendou uma pedreira na zona leste de São Paulo. Já adulto, Matheus dizia que “de gole em gole, a galinha enche o papo”. Ele e os irmãos tocaram o negócio e depois tiveram uma pavimentadora, que os ajudou a ganhar muito dinheiro.

Já como empresário bem-sucedido, conseguiu entrar para a acirrada política do Corinthians. Se tornou presidente pela primeira vez em 1959. Entre vitórias e derrotas nas urnas, esteve no poder até 1991.

Como cartola, Matheus é lembrado por contratações bombásticas, como a de Sócrates, em 1978, quando toda a imprensa acreditava que o craque do Botafogo de Ribeirão Preto já estava fechado com o São Paulo. Mas Matheus viajou para o interior, em silêncio, chegou antes dos dirigentes tricolores e fechou negócio com seu Raimundo, pai de Sócrates. Anos depois, quando surgia interesse de outros clubes no craque, Matheus respondia que Sócrates era “inegociável, invendável e imprestável”!

Como cartola, Matheus é lembrado por contratações bombásticas, como a de Sócrates, em 1978, quando toda a imprensa acreditava que o craque do Botafogo de Ribeirão Preto já estava fechado com o São Paulo

André Tal

Teve também a contratação do Biro-Biro, meio-campo que fez história com títulos no Timão. E eternizou o próprio nome por conta dos cabelos loiros e encaracolados. Biro conta que na coletiva de imprensa, Matheus o apresentou como Lero-Lero. Quando foi corrigido pelos jornalistas, seu Vicente respondeu que Biro-Biro, Lero-Lero, é tudo a mesma coisa.

Para contratar Paulo Borges, Vicente Matheus foi até o Rio de Janeiro, acompanhado do sócio e irmão, Isidoro Matheus. Ouviram do presidente do Bangu que o passe do jogador custava 60 milhões de Cruzeiros. Vicente virou para o irmão e disse: “faça um cheque de 60 milhões, Isidoro”. O irmão, então, perguntou: “como se escreve 60?”, Vicente respondeu: “faz dois cheques de 30″.

Mas Matheus também cometeu um erro considerado imperdoável para muitos corinthianos. Ele mandou embora Rivelino do Corinthians depois do alvinegro perder o título paulista de 1974 para o rival Palmeiras. Matheus escolheu o craque para ser o bode expiatório e o vendeu para o Fluminense.

Todos os entrevistados para o nosso documentário concordam que a maior conquista de Vicente Matheus como presidente do Corinthians foi o Campeonato Paulista de 1977, quando o clube encerrou um jejum incômodo de 23 anos sem títulos. Antes das históricas finais contra a Ponte Preta, Matheus teria dito: “haja o que hajar, o Corinthians será campeão”.

Basílio foi o autor do gol do título: “Eu vim pelo primeiro pau, resvalei de cabeça, deslocou toda a defesa da Ponte Preta. O Vaguinho, que estava junto comigo, deu a volta, pegou essa bola que praticamente tinha desviado ali, chutou, essa bola pegou na trave, voltou, o Vladimír cabeceou, bateu na cabeça do Oscar, voltou para mim, eu peguei de bate-pronto e estou aqui dando entrevista hoje”.

Um homem que, acima de tudo, amava o Corinthians. Vicente Matheus, haja o que hajar está disponível de graça no PlayPlus.

Assista ao teaser Vicente Matheus: “Haja o que Hajar”

  • Diretora de Conteúdo Digital e Transmídia: Bia Cioffi
  • Reportagem: André Tal
  • Roteiro e edição: Giuliana Marabello
  • Produção: Elias Novellino, Ivan Belmudes e Rosana Simões
  • Coordenadora Trasmídia Sites Oficiais: Juliana Lambert
  • Coordenador de Redes Sociais: Bruno dos Santos Oliveira
  • Analistas de Redes Sociais: Larissa Yafusso e Giovane Felix
  • Coordenadora de Arte Multiplataforma: Sabrina Cessarovice
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