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Estúdio|Marcella Larocca

O que no início era para ser o sonho de fazer uma viagem tranquila com o vento batendo no rosto de um casal apaixonado por motos quase terminou em tragédia.

Em setembro do ano passado, um empresário de Guarulhos, de 50 anos, e a mulher dele, de 30, voltavam de Paraty, no Rio de Janeiro, em uma moto BMW/R1200 GS Adventure após passar alguns dias na cidade de férias.


Era mais uma viagem na moto. Eles já tinham ido para o Sul do Brasil.

Quando estavam chegando a Guarulhos, decidiram parar para tomar água em um posto de combustível na Rodovia Presidente Dutra. Depois da parada, seguiram viagem, só que logo depois do pedágio foram surpreendidos por quatro criminosos em duas motos.


O que aconteceu na sequência é digno de um filme de terror:

“Ele não anunciou o assalto. Passou por mim, deu o tiro para depois anunciar o assalto. A bala entrou na viseira do capacete, desviou, entrou no meu peito, saiu nas costas e pegou na minha esposa, que estava comigo na garupa”, conta o empresário.


Capacete atingido por bala durante roubo a moto Roubo de moto: viseira do capacete da vítima atingida por bala reprodução Record

Por sorte, o projétil parou na jaqueta da mulher e ela não ficou ferida.

A moto, que pesa aproximadamente 300 kg, caiu no chão. Os bandidos não conseguiram levá-la.

Um agente penitenciário que passava pelo local atirou para o alto para afugentar os ladrões. A ação dramática foi registrada por uma testemunha. (VÍDEO)

O dono da moto foi socorrido em estado grave ao Hospital Geral de Guarulhos, onde ficou internado na UTI por nove dias. A família dele foi chamada pelos médicos que disseram que a vítima só sobreviveria por um milagre.

Ele sobreviveu.

Seis meses depois, o casal ainda tenta vencer o medo. Cancelaram uma viagem para o Chile, mas ainda não se desfizeram da moto.

“Desde o dia em que aconteceu a moto está guardada na casa de um parente, porque eu não tive coragem de pegar a moto e levar para a minha casa”, lamenta a mulher.

Casal de motos rendido por bandidos Terror: casal voltava de viagem quando foi atacado na Dutra Redes Sociais

Três motos roubadas por dia

O caso do empresário é mais um que se soma ao assustador número de roubos de motos de alta cilindrada registrado no ano passado no estado de São Paulo.

Um levantamento feito com base em dados da Secretaria de Segurança Pública mostrou que foram roubadas 1.082 motos desta categoria. É uma média de 3 motos por dia levadas pelos bandidos. Na Capital foram 567 ocorrências.

A Federação Paulista de Motoclubes de São Paulo teme pela segurança dos motociclistas.

“Reforçamos a importância de ações mais eficazes por parte das autoridades para coibir essas práticas e garantir a segurança de todos os motociclistas. A Federação seguirá acompanhando a situação e colaborando com medidas que possam fortalecer a proteção da nossa comunidade”, ressaltou em nota.

Segundo a delegada Leslie Caran, chefe da delegacia que investiga roubo de veículos do DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais), a maior incidência desses roubos ocorre entre sexta e domingo.

E isso tem uma explicação.

“Nos mesmos dias em que os bailes funks acontecem”, explica.

Mapa dos roubos de motos Alvo: 1.092 ocorrências de motos de alta cilindrada roubadas em 2024 Fonte SSP


Delegada Leslie Caram Ousadia: Delegada Leslie Caram explica que criminosos não se arrependem reprodução RECORD

Ostentação

Nas redes sociais, jovens em motos potentes fazem manobras exibicionistas em meio a centenas de pessoas em bailes funk, em comunidades nas Zonas Sul e Leste de São Paulo.

O clima é de ostentação. Alguns encobrem as placas das motos. Outros nem se preocupam.

Ou seja, a moto roubada, muitas vezes com violência extrema, tiros e mortes, é usada apenas para exibição dos bandidos nos bailes.

Um funcionário público que teve a moto roubada no começo de fevereiro em São Caetano, no ABC Paulista, ficou estarrecido quando viu imagens de um jovem fazendo manobras com a BMW dele em uma página do Instagram.

“Fiquei revoltado quando vi o bandido em cima da minha moto”, diz.

Na mesma página, várias motos eram exibidas com e sem placas.

Em uma pesquisa rápida localizamos três motos roubadas que apareciam em imagens sendo exibidas nessas redes sociais. As placas indicavam que as motos haviam sido roubadas em cidades no estado de São Paulo.

Após usadas para ostentação nos bailes, as motos são abandonadas ou vendidas para desmanches que desmontam e vendem as peças.

“Os ladrões ficam com as motos de um a dois dias antes delas terem outra destinação”, afirma a delegada.

Os ladrões de motos exibem suas conquistas nas redes sociais e fazem manobras arriscadas. São ousados e desafiadores.

São indivíduos jovens, que não trabalham ou estudam. Querem viver e ostentar. Querem tênis de marca, roupas de marca e querem mostrar. Eles vivem uma vida para as redes sociais. Eles têm noção que o caminho que eles escolheram só pode ter dois finais: cadeia ou caixão.

delegada Leslie Caram

Em páginas do Instagram, são diversos perfis com milhares de seguidores em que jovens gravam vídeos acelerando as motos de alta cilindrada roubadas. Não se preocupam nem em disfarçar a origem e identificação da moto.

Na avaliação da delegada, eles sentem orgulho do crime. “Esse último falou para mim: eu gosto de roubar. É isso que eu faço, eu nasci para isso e quando eu for solto, eu vou continuar roubando”, conta.

Ladrões exibem as motos roubadas Ostentação: ladrões levam motos para se exibir em bailes funk Imagem criada por IA Gemini


Perigo na saída de São Paulo

Quando colocadas em um mapa, as ocorrências revelam que os ladrões preferem atacar os motociclistas nas saídas de São Paulo. Os maiores índices de roubos aconteceram nas rodovias Anhanguera, Imigrantes, Fernão Dias e Régis Bittencourt. Muitos casos ainda no trecho urbano.

Foi o caso de Carlos Gaspar, de 58 anos, atacado na Rodovia Régis Bittencourt, próximo ao município de Embu das Artes. Ele é autônomo e apaixonado por motos. Em junho do ano passado, Gaspar foi visitar os pais na cidade de Ilha Comprida, que fica a 200 km da capital, em uma Tiger 1200 cilindradas. Na garupa da moto de alta cilindrada estava o filho, de 23 anos.

Quando voltavam para São Paulo, já na Rodovia Régis Bitencourt, Gaspar reduziu a velocidade por conta do trânsito carregado do final do dia. Foi aí que ele percebeu a aproximação de uma moto suspeita com dois homens. Um dos criminosos bateu na mão do motociclista e gesticulou que era um assalto.

“Passou dois caras numa moto, bateu na minha mão assim e gesticulou. Até aí eu não vi arma, não vi nada. Eu não entendi que era um assalto. Se eu tivesse entendido que era um assalto, eu tinha acelerado e tinha ido embora.

O filho alertou o pai que um dos ladrões estava armado.

Agressivo e nervoso, o ladrão tentou tirar o capacete com força da cabeça de Gaspar.

“Descemos da moto, tiraram o meu capacete, o capacete do meu filho, o revistaram na cintura, na perna. O cara (ladrão) não conseguia ligar a moto, não tinha alarme, nada. Nessa daí, conseguindo ligar, nós viramos as costas e viemos embora.

O piloto não conseguiu ligar a moto e ainda ameaçou o dono para ensiná-lo e depois fugiu com a moto, as jaquetas e os capacetes de Gaspar e do filho.

Horas depois, ele teve uma surpresa. Recebeu a ligação de policiais militares dizendo que a motocicleta havia sido encontrada em uma comunidade, na cidade de Taboão da Serra. O bandido acabou preso após trocar tiros com a Polícia.

“A polícia ligou para o meu filho e falou que acharam a moto lá no Taboão. E aí eu fui para buscar a moto, tinha que levar uma chave, porque eles sumiram com a chave. Chegou lá, a polícia falou para mim que eles deixaram a moto lá perto de uma comunidade, acho que era uma comunidade. E alguém ligou para polícia e falou que tinha uma moto de alta cilindrada parada lá”, conta Gaspar.

Antes de ser preso, o bandido ainda teve tempo postar a foto da moto nas redes sociais. Foi outra vítima da mesma quadrilha que mostrou a imagem para Gaspar.

“Final de semana, infelizmente, a gente não pode andar com esse tipo de moto”, lamenta.

Mesmo com o enorme risco, há quem não renuncie à paixão pelas motos.

É a situação de um segurança apaixonado por motos de alta cilindrada, que prefere não se identificar.

Mesmo depois de três ataques violentos, nos quais quase perdeu as motos e a vida, ele segue pilotando uma potente Triumph 1200.

A tentativa de roubo mais recente aconteceu há três anos em São Bernardo do Campo. Os ladrões atacaram quando ele reduziu a velocidade devido a um radar de velocidade.

“Eu percebi que tinha três motos com seis indivíduos me observando, né? Aí foi na hora que reduzi a velocidade da moto no radar eletrônico, na hora que eu, sem eu perceber, uma das motos, atravessando. Com arma em punho, pediram para eu descer da moto. Quando ele desceu, que não sei se ele percebeu que tive algum movimento, ele se assustou com alguma coisa, e deu o primeiro tiro”.

O motociclista foi socorrido por um motorista que passava e levado para o hospital, onde ficou três dias internado. Apesar do trauma, ele não pensa em desistir e se desfazer da moto.

“Eu não vou vender minha moto, porque não vou vender meu sonho”, conclui.


Ladrão exibe moto roubada Afronta: Ladrão exibiu fotos da moto de Gaspar nas redes sociais Redes Sociais
Vítima com amoto de alta cilindrada Resiliência: vítima não vai deixar de usar a moto reprodução RECORD

  • Diretora de Conteúdo Digital e Transmídia: Bia Cioffi
  • Coordenadora de Produções Originais: Renata Garofano
  • Repórter Investigativo: Marcella Larocca
  • Repórter: Ari Peixoto
  • Coordenadora de Arte Multiplataforma: Sabrina Cessarovice
  • Arte: Gabriel Marques
  • Editor Chefe: Thiago Samora
  • Editor Chefe: Bruno Chiarioni
  • Editora Chefe: Angelica Mansani
  • Chefe de Produção: Josimara Zappi
  • Diretor de Desenvolvimento de Núcleo: Celso Teixeira











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