Perigo disfarçado: adultos fantasiados de crianças nas redes sociais
Conheça os riscos de deixar crianças consumirem conteúdos de influenciadores
Noinsta|Do R7 e Ana Carolina Cury
Hoje em dia é comum ver a criançada com seus tablets em mãos. Algumas para assisitir desenhos, acessar joguinhos ou ver as redes sociais. Muitos acham inofensivo, já que essas plataformas fornecem "conteúdo kids". Mas, infelizmente, é aí onde mora o perigo.
A rede de vídeos online para o público infantil tem crescido de forma surpreendente e abrigado influenciadores que se fantasiam de crianças para manipular os pequenos, e não para o que é bom. Tivemos acesso a perfis com interações extremamente inadequadas.
"Não coma a banana assim, coma com a colher", dizia um rapaz no TikTok. Vendendo uma roupagem "infantil", e com milhões de seguidores, ele "ensinava" as crianças, de forma maliciosa, a comer a fruta. Outros vídeos do mesmo perfil assustava, sexualizava, e por aí vai.
Outros conteúdos e perfis que se dizem "kids" disseminavam a sexualização precoce e até a pornografia. Banalizando também a violência física, a violência verbal, a morte e o respeito à vida.
O que os adultos precisam saber com tudo isso? Por trás deles, existem estratégias e, com certeza, uma delas é a de conseguir audiência para que a publicação seja compartilhada entre esse público. "É como se tudo fosse voltado para criança, as cores do influencer, sempre colorido, o que prende e chama atenção. O problema é que a linguagem verbal e visual confunde, como se o conteúdo fosse adequado a menores, e não é. Quem produz é seduzido pelas métricas e não tem nenhum filtro que atenda a classificação etária da infância", observa a psicopedagoga Cassiana Tardivo.
Não é apenas um vídeo
A especialista acrescenta que o conteúdo não apenas influencia como pode mexer com o simbólico da criança, com seu campo fantasioso, colocando-a em risco ou em quadros de vulnerabilidade. "Sem mencionar que toda fala carrega um conteúdo valorativo e os pais precisam saber, acompanhar, para concluir se as narrativas vão a favor ou contra seus valores e crenças. Em meio ao colorido, o que realmente o autor fala, veicula e defende quais ideias?", questiona Cassiana.
O acesso às redes sociais aumenta a cada ano e, infelizmente, as crianças têm ingressado nelas antes do que deveriam, inclusive antes até mesmo do recomendado pelas próprias plataformas. "Está comum porque temos uma geração de mães e pais também sem conhecimento. Pais que visam 'negociar' a respeito de tudo com os filhos não deveriam confundir diálogo aberto com gestão democrática na educação, afinal eles são menores e imaturos", observa a psicopedagoga.
Permitir que as crianças acessem esses perfis ajuda com que as publicações influenciam, modelem seus comportamentos, incentivando até mesmo o bullying, que tem como consequência o adoecimento mental e até o suicídio.
Não é incomum ver "desafios" nas redes que podem levar ao óbito. Por isso, é necessário levar a sério a informação de que a criança e adolescente não têm maturidade para discernir tais questões, se tivessem não teríamos tantos adolescentes falecendo nesses tipos de "brincadeiras".
Andando na contramão
As crianças precisam voltar a ser crianças, brincar com esportes, corridas, bicicletas, jogos, desafios lógicos etc. Elas precisam ter experiências no campo do fazer, pensar e solucionar questões; precisam ser produtoras e não consumidoras passivas. Para isso acontecer é essencial andar na contramão do que a internet impõe.
E quem pode fazer isso? Pais e responsáveis! "Façam uma lista de atividades e orientem os filhos ao uso correto, saudável e consciente, e não barganhem. Filhos são vulneráveis e os pais precisam cuidar do que eles assistem. E isso não significa colocar um aplicativo de controle parental achando que já é o suficiente! Colocar um aplicativo de controle parental é o mínimo que pode ser feito", orienta a especialista.
A Sociedade Brasileira de Pediatria orienta o seguinte tempo por faixa etária:
0 a 2 anos – zero tempo de exposição a telas, ou limitar o máximo possível
2 a 5 anos – limitar a 1 hora por dia
6 a 10 anos – de 1 a 2 horas por dia
11 a 18 anos – de 2 a 3 horas por dia e sem virar a noite
Em todas as faixas etárias recomenda-se supervisão
Criança precisa de atenção, firmeza e limites saudáveis. "Estejam ao lado dos filhos no desenvolvimento; brincando, conversando, vivendo! Tenham eles dando trabalho na sala e não aceitem os "filhos do quarto". Filhos precisam de pais e pais precisam de filhos", conclui a psicopedagoga Cassiana Tardivo.
É possível viver em uma família feliz onde existe o interesse genuíno em estarem todos unidos, mas para isso é preciso resgatar o convívio, as conversas e o amor.
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