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Incentivo ao confronto foi fator de mortes de policiais no Rio

Tática de enfrentamento é uma das maiores causas de crimes, diz sociólogo

Retrospectiva 2017|PH Rosa, do R7


Enterro de PM comoveu colegas
Enterro de PM comoveu colegas

Tentativas de assalto e operações em comunidades são algumas das causas mais comuns de mortes de policiais militares no Rio de Janeiro. Em 2017, foram 134 agentes assassinados até o dia 30 de dezembro. Desse total, 28 foram mortos em serviço, 80 durante a folga e outros 26 eram reformados.

Apesar do número menor que o de 2016, que registrou 146 crimes, a sensação de insegurança entre a população parece ter aumentado, principalmente por causa da projeção dos casos e dos relatos que são compartilhados, segundo o sociólogo e professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Doriam Borges.

— O sentimento de insegurança e a percepção sobre a violência não são derivados apenas das estatísticas de violência e criminalidade, mas são acionados a partir de crenças construídas nas conversas, pela mídia, pelas experiências próprias e de outras pessoas, entre outras coisas. Estamos vivendo isso intensamente no Rio de Janeiro.

Segundo Borges, os números são altos devido a tática de enfrentamento usada pela gestão de segurança pública do Estado. Em um dos casos mais recentes, por exemplo, o cabo Eduardo Deniz da Silva foi baleado no rosto após uma abordagem a suspeitos na avenida Dom Helder Câmara, na zona norte.

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O sociólogo evidencia que esse tipo de ações acaba preocupando a população e deixando vítimas dos dois lados.

— O número de policiais militares mortos é alto em função da estratégia empregada pela gestão da segurança pública do Rio de Janeiro, ou seja, o confronto armado contra o "inimigo". Este tipo de abordagem gera vítimas nos dois lados e não soluciona os problemas de violência e criminalidade e deixa a população preocupada.

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Entretanto, o número de policiais mortos em folga é ainda maior que os mortos em serviço. Quando o Estado atingiu a marca de 100 PMs mortos este ano, o antropólogo e veterano da Polícia Militar Paulo Storani, disse ao R7 que, quando ocorrem tentativas de assalto, por exemplo, os criminosos já partem do pressuposto de que a vítima é policial e tentam “eliminar os únicos atores que poderiam impedir seu avanço contra o cidadão de bem”.

Morte de coronel provocou comoção na corporação
Morte de coronel provocou comoção na corporação

Uma dessas mortes que causou grande comoção foi a do coronel Luís Gustavo Teixeira, que comandava o batalhão do Méier (3º BPM). Inicialmente, a corporação informou que ele havia sido vítima de um ataque na rua Lins de Vasconcelos, que fica no bairro de mesmo nome na zona norte da capital. Depois certificou-se que ele foi um dos alvos de um arrastão.

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O agente, que estava na polícia havia 26 anos, seguia para o batalhão em um veículo descaracterizado quando foi morto. No local do crime foram encontradas cerca de 32 cápsulas de munições disparadas.

Borges destaca que os agentes também vivem sob pressão e que as chances de morrerem tentando se defender de assaltos ou em operações policiais se tornam maiores por causa do estresse e também da crise vivida pelo Estado.

— Essas chances são elevadas com o estresse do policial, que não tem recursos para desenvolver o seu trabalho, não é valorizado, é estigmatizado pela sociedade, é cobrado pela instituição e ganha mal.

Projeção

Este ano, a Polícia Militar informou que os policiais passam por um processo de reciclagem profissional, melhorando sua capacidade operacional e reavaliando suas condições físicas e psicológicas. Além disso, a corporação disse que também são realizados treinamentos para o aperfeiçoamento do uso de tecnologias não letais, tiro, técnicas de abordagem de pessoas e condução de viaturas, técnicas de autoproteção e patrulhamento, comunicação não-violenta, produção de dados de inteligência e gerenciamento de risco.

Porém, a polícia disse que além dos treinamentos e reciclagens, esse quadro só pode ser revertido “com a revisão do código penal, uma repressão efetiva ao tráfico de armas e, sobretudo, mais investimento em segurança pública e em políticas sociais".

Já o sociólogo afirma que para haver redução nas mortes de policiais e outros cidadãos, precisa haver uma mudança nas condições políticas, caso contrário, em 2018, os números podem ser ainda maior.

— Infelizmente, se as condições políticas não mudarem e a gestão da segurança não reconhecer que está errando, a expectativa é de aumento do número de policiais mortos, bem como de civis mortos pela polícia.

Borges conclui apontando alternativas para evitar essas mortes.

— O ideal seria a aplicação de diferentes estratégias articuladas, tais como inteligência, investigação e prevenção, evitando o confronto.

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